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A Psicoterapia em Contextos de Violência e Exclusão

Quando a Dor Não Encontra Palavras

Nov 6, 2025

Geovanna Moreira Bastos

Autocuidado
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Quando alguém busca psicoterapia, muitas vezes imagina que o processo será apenas sobre seus sentimentos pessoais, sua história familiar ou suas dificuldades individuais. No entanto, a psicanálise também precisa lidar com algo maior: o impacto que a sociedade, a política e a violência têm na vida das pessoas. Há situações em que o sofrimento não vem apenas “de dentro”, mas também de um mundo que machuca, exclui ou cala.

 

Psicólogos e psicanalistas que atuam com crianças, adolescentes, migrantes, pessoas afetadas por violência ou exclusão social percebem que, muitas vezes, o problema não está apenas no que o sujeito sente, mas no que ele não consegue dizer. Há histórias que não encontram palavras, dores que não podem ser contadas, e um silêncio que não significa ausência de sofrimento, mas um bloqueio provocado por experiências traumáticas ou por discursos sociais que oprimem.

 

Esse tipo de atendimento é chamado, em algumas pesquisas, de clínica do traumático. Ela não se limita a escutar sintomas como ansiedade, depressão ou medo, mas considera o impacto do contexto social na vida psíquica. Isso significa reconhecer que o sofrimento também pode ser fabricado por desigualdade, racismo, misoginia, pobreza, guerra, abandono ou violência simbólica.

 

Nessa perspectiva, o tratamento não é apenas uma conversa entre paciente e terapeuta, mas uma busca para recolocar o sujeito no lugar onde a sua palavra foi apagada. Isso vale, por exemplo, para a criança que não consegue aprender porque vive em um ambiente de violência, ou para o adolescente agressivo que não encontra outra forma de existir no mundo. Vale também para o imigrante que perdeu suas referências, sua língua, seus vínculos e agora tenta reconstruir sua identidade em um território estrangeiro.

 

A psicanálise, nesse cenário, não pode atuar como se o mundo fosse neutro e justo. Ela se pergunta: como escutar alguém cuja história foi interrompida pelo trauma? Como oferecer espaço de fala a quem só aprendeu a sobreviver em silêncio? Não se trata de adaptar o paciente ao mundo como ele é, mas de ajudá-lo a recuperar sua posição de sujeito — alguém que pode dizer “eu” com singularidade, e não apenas repetir o discurso imposto pelos outros.

 

Uma ideia importante da psicanálise é que somos formados pelas palavras dos outros: a forma como nossa família nos nomeia, como a sociedade nos enxerga, como o mundo nos acolhe (ou não). Quando esses discursos são violentos, totalitários ou desumanizadores, eles roubam a capacidade de alguém se reconhecer como sujeito. É nesse ponto que muitos chegam ao consultório sem conseguir pedir ajuda, não porque não sofrem, mas porque o sofrimento virou mudez.

 

O trabalho clínico, então, não é “dar conselhos”, mas criar um espaço onde esse sujeito possa reconstruir o sentido de sua própria história, devolvendo-lhe o direito de falar, desejar, contradizer, existir. A escuta psicanalítica é, nesse sentido, uma forma de resistência: uma recusa de aceitar que as pessoas sejam reduzidas a números, diagnósticos, estatísticas ou estigmas.

 

Por isso se fala em clínica psicanalítica com dimensão político-clínica. Não porque o psicólogo faça militância ou discurso ideológico, mas porque compreender o sofrimento exige reconhecer o mundo real em que ele nasce. A psicanálise não ignora a violência simbólica, social ou institucional: ela inclui isso na escuta e pensa o tratamento a partir dessa realidade.

 

Quando alguém vive um trauma — como abandono, abuso, extrema pobreza ou xenofobia — o problema não pode ser reduzido a um “transtorno individual”. A dor é entrelaçada com o contexto, com a linguagem, com a forma como esse sujeito foi tratado pelos outros. A clínica do traumático, portanto, não quer adaptar o sujeito ao que o feriu, mas ajudá-lo a reconstruir sua própria posição frente ao outro e ao mundo.

 

Assim, buscar psicoterapia não significa apenas olhar para dentro, mas também se permitir olhar para o que, fora de nós, nos atravessa. Não é fraqueza pedir ajuda. Fraqueza é uma sociedade que impede as pessoas de falarem. A clínica — quando verdadeiramente escuta — pode devolver o direito de existir com palavras próprias. E isso, para quem foi silenciado, já é um ato de cura.

 

Geovanna Moreira Bastos | Psicóloga e psicanalista - CRP 01/30116

Meu perfil no Terappia: www.terappia.com.br/psi/Geovanna-Moreira-Bastos

 

 

 

 

 

#terapia #psicologia #psicoterapia #angustia #emocoes #violencia

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