Você já sentiu que o peso do mundo se manifesta em seu corpo? Aquele nó na garganta antes de uma reunião, a insônia que visita sem ser convidada, ou a exaustão que nem um fim de semana inteiro de descanso parece curar. Em uma cultura que nos treinou para sermos produtivos e eficientes, aprendemos rapidamente a rotular essas experiências: "Estou com ansiedade", "É o começo de um burnout", "Devo estar com depressão".

Quase que imediatamente, transformamos emoções humanas em sintomas. E sintomas, nos ensinaram, precisam de um diagnóstico e, consequentemente, de um "conserto".

Mas e se parássemos por um instante para questionar essa lógica? E se a sua dor não for um defeito de fabricação, mas uma bússola apontando para algo que precisa ser visto?

É este o convite da despatologização: um convite para olharmos para o nosso sofrimento de uma forma mais humana, crítica e potente.

A Fábrica de Diagnósticos e a Cultura da Performance

Vivemos em um sistema que lucra com a nossa pressa e se alimenta do nosso cansaço. A produtividade tornou-se uma métrica de valor pessoal. Nesse cenário, não há espaço para o luto, para a dúvida, para a pausa. O sofrimento se torna um obstáculo, uma falha individual que precisa ser rapidamente medicalizada e silenciada para que a engrenagem continue girando.

• Ansiedade no trabalho? Talvez não seja apenas um "transtorno", mas um sinal vital de que você está em um ambiente que suga sua energia ou que suas prioridades foram sequestradas por demandas externas. É o seu corpo resistindo a uma normalidade que adoece.
• Sentimento de solidão? Pode ser mais do que um sintoma de depressão. Pode ser um chamado profundo para se reconectar consigo mesmo, questionar a superficialidade de certas relações e buscar vínculos que realmente nutram sua alma.
• Cansaço persistente? Talvez não seja apenas uma questão de "gerenciar melhor o seu tempo". Pode ser o grito do seu corpo reivindicando odireito ao descanso em um mundo que confunde estar ocupado com ser importante.

Quando patologizamos essas experiências, colocamos todo o peso da "cura" sobre o indivíduo. A mensagem implícita é: "Você está quebrado, conserte-se". A despatologização inverte essa lógica e pergunta: "Em que mundo quebrado estamos vivendo, para que se sentir assim seja a resposta mais sã?".

A Psicoterapia como Mapeamento, Não como Correção

Nessa perspectiva, a psicoterapia deixa de ser um lugar para "curar" algo que está "errado". Ela se transforma em um espaço seguro para

cartografar o seu próprio território. É um laboratório para investigar, sem julgamentos, as forças que te atravessam, os desejos que te movem e as opressões que te paralisam.

Abordagens como a

Esquizoanálise nos ensinam que o desejo não é falta, mas potência criativa. A terapia, então, se torna um processo de desbloquear essa potência, de criar "linhas de fuga" — novas maneiras de pensar, sentir e agir que escapem dos roteiros predefinidos que nos foram impostos.

Não se trata de encontrar um diagnóstico que te defina, mas de construir ferramentas para que você possa se reinventar continuamente. O objetivo não é se adaptar a um sistema doente, mas fortalecer sua autonomia para construir uma vida que faça sentido para você, com mais autenticidade e respeito aos seus próprios ritmos.

A sua dor é legítima. Ela tem uma história e, mais importante, ela tem algo a dizer.

E você, o que sua dor tem tentado te contar?