
Vivemos em uma era onde vidas inteiras cabem em pequenos quadrados brilhantes. Cada feed nos apresenta imagens selecionadas, conquistas exibidas e momentos cuidadosamente editados. E, ainda assim, diante dessas telas, sentimos uma inquietação silenciosa: “Por que a minha vida não parece assim?”
A psicanálise nos ajuda a compreender esse fenômeno. Segundo essa abordagem, cada pessoa possui um eu real — quem somos de fato — e um eu ideal — aquilo que aspiramos ser. Comparar-se nas redes sociais é, muitas vezes, confrontar o próprio eu real com imagens idealizadas do outro, ativando sentimentos de falta e inadequação.
Lacan nos lembra que o olhar para o outro é, muitas vezes, um olhar para aquilo que nos falta. Cada foto perfeita, cada conquista compartilhada, funciona como um espelho que reflete nossos desejos, inseguranças e expectativas não atendidas. Essa dinâmica pode impactar diretamente a autoestima, gerando frustração, ansiedade e sensação de inferioridade.
Mas há caminhos de transformação. Reconhecer que a comparação reflete mais nossos anseios internos do que a realidade alheia permite desenvolver autocompaixão e autoconhecimento. Aceitar nossas imperfeições, valorizar nossas pequenas conquistas e estabelecer limites saudáveis no uso das redes sociais são passos essenciais para retomar o controle sobre nossa autoestima.
Comparar-se nas redes sociais é um reflexo natural de nossas dinâmicas internas, mas não precisa definir como nos sentimos. A psicanálise nos oferece ferramentas para entender esses reflexos digitais, transformando frustração em consciência, insegurança em autovalorização e permitindo viver de forma mais autêntica.





