
Era um domingo ensolarado em que Lorena decidiu ir à feira. Não aquela com cheiro de pastel e caldo de cana, cheia de frutas e verduras frescas, mas a feira dos amores, aquela em que se passeia.
— Olha só o conversante fresquinho! Pegue um agora, tá cheio de papinho!
Lorena olhou e pensou na deliciosa possibilidade de conversas durante a madrugada, terminando em um ghosting repentino que nunca viram nada.
— Na academia, na faculdade ou no mercado! Leve seu olhante para todo lado!
A jovem observava que, para cada par de olhos, havia um lugar para admirá-los. A reciprocidade do olhar havia agrado. Porém, lembrou-se de que desse amor nunca provaria nada além, pois não havia troca senão olhares.
— Venham ver esses ficantes! Aqui temos nossas caixas-surpresa! Cada um promete um tipo de noite, mas nunca ficam depois da sobremesa!
Ela correu e se aproximou, questionando o feirante se havia algum produto que permanecesse mais que um ficante.
— Aqui a dona sempre acha o que procura, só um ficante premium satisfará sua busca!
Lorena, insatisfeita, perguntou se não havia algo que prometesse ficar, algo firme, capaz de família se tornar.
— Poxa, dona, dessa vez eu fico em falta. Tenho sementes de amores verdadeiros, mas essas você planta em casa.
O feirante pegou um pacote remendado. Dentro, havia algumas sementes, nenhuma bela ou atraente.
— As sementes enganam, isso eu já te aviso. Umas dão um péssimo marido, outras apenas um bom amigo. Mas é só plantando e regando que se descobre o que for. Afinal, dona, esse é o único jeito de encontrar um grande amor.
Lorena pegou as sementes, segurou-as entre os dedos. Agradeceu ao feirante e virou-se para os "Amores em Segredos".
Caminhou timidamente, deixando o pacotinho no lixo. Sabia que se esforçar por amor estava além de seu capricho.





