
Fazer terapia ainda é, para muitas pessoas, um passo difícil. Não porque falte interesse em se conhecer, mas porque existe uma série de resistências que se impõem no caminho. O psicanalista Contardo Calligaris lembrava com frequência que a psicoterapia não é um espaço para corrigir ou ensinar como devemos viver, mas um lugar onde cada um pode elaborar sua história e descobrir os próprios desejos. Mesmo assim, muitos de nós hesitamos em atravessar essa porta.
Uma das razões está no medo de se confrontar com aquilo que evitamos. Ir para a terapia é aceitar que haverá perguntas que talvez não tenham respostas fáceis, e silêncios que exigem coragem. Como dizia Calligaris, “as pessoas não procuram terapia para serem felizes, mas para viverem a própria vida” e esse é um convite que assusta, porque nos tira da ilusão de que existe um manual pronto para ser seguido.Outra resistência vem da crença de que procurar ajuda é sinal de fraqueza.
Fomos educados a acreditar que precisamos dar conta de tudo sozinhos, que pedir apoio significa não ser forte o suficiente. A terapia, nesse sentido, desafia o orgulho e nos mostra que compartilhar nossa dor, nossas dúvidas e até mesmo nossos desejos pode ser um gesto de maturidade e não de fraqueza.Também existe o receio de ser julgado. Muitos acreditam que o psicólogo vai dizer o que é certo ou errado, como se fosse um juiz moral. Calligaris insistia justamente no contrário: o papel do terapeuta não é condenar ou prescrever, mas sustentar um espaço de escuta onde cada sujeito encontra a sua maneira de viver. Resistir à terapia, portanto, é resistir ao encontro com o desconhecido de si mesmo. É natural que isso cause medo.
Mas é nesse mesmo movimento que está a possibilidade de criar uma vida mais autêntica, menos guiada por expectativas externas e mais próxima dos próprios desejos.No fundo, procurar terapia não é sinal de fraqueza, mas de coragem: a coragem de se sentar diante de si mesmo e dar voz àquilo que muitas vezes foi silenciado.





