

É muito fácil cair na comparação e na inveja num mundo que está praticamente o tempo todo nos dizendo que temos que ser mais, que o que já somos e fizemos até aqui não é o bastante. Sentir inveja e se comparar são coisas humanas – nem negativas, nem positivas por si só. O problema costuma surgir quando caímos no abismo da inveja e da comparação excessiva e, então, vivemos junto à dor de não ser suficiente, à vergonha de ser quem somos e conseguimos ser, à raiva por nos sentirmos desiguais, ao medo de nunca alcançar.
A sensação constante é que a gente está correndo naquelas rodas de hamster, sabe? Parece que a gente corre, corre e corre, mas nunca chega no ponto em que, supostamente, deveria chegar. Daí, ficamos cansados e frustrados com nós mesmos, começamos a olhar para os outros – para uma pequena parte dos outros que é mostrada e que, muitas vezes, é só a parte bonita e "mostrável" – mas que já serve muito bem para nos fazer pensar que nossa vida não basta.
Se, como seres humanos, já temos uma inclinação à busca pela perfeição, ao sentimento de inferioridade e ao desejo de superioridade, imagine nessa época e nessa cultura em que vivemos, que valoriza isso ao extremo e nos diz que esse é o ideal a ser alcançado. Que a gente tem que ter uma comunicação perfeita, uma postura alinhada, resultados espetaculares; que a gente tem que ser e se mostrar plenamente confiante e preparado para podermos ser suficientes no mundo.
Mas e quanto à parte incontrolável da vida, àquela parte que não depende apenas de nós ou da mera vontade própria? E quanto ao nosso lado falho e imperfeito, ao nosso direito de não ter que ser impecável dia e noite? E quanto a tudo aquilo que já conseguimos fazer e tudo aquilo que fomos até aqui? Isso tudo não vale nada?
A questão é que existe um custo alto em tentar ser tudo o que esperam de nós, o que achamos que esperam de nós, o que esperamos de nós mesmos e projetamos nos outros como ideal. Esse custo é uma vida cheia de descontentamento e um distanciamento ainda maior daquilo que somos verdadeiramente. Reconhecer nossas limitações, os passos que já demos – por menores que pareçam – e permitir-nos descansar dessa busca exaustiva por sabe-se lá o quê pode ser um caminho para uma vida mais significativa e com menos cobranças. Porque a vida não precisa ser uma corrida, nem uma competição constante – ela pode ser, simplesmente, vivida. Amanda Renata da Silva
Psicóloga | CRP 08/34409 Meu Instagram: @amandasilvapsi_ Meu perfil no Terappia: www.terappia.com.br/psi/amanda-renata-da-silva