

Bordado livre é um tipo de bordado onde existe liberdade para usar sua criatividade. Você pode criar, desenhar, pintar e bordar. Pode usar diferentes tecidos e decorar muita coisa. Aprendi a bordar na pandemia e naquela época me sentia inútil. Tinha acabado de me formar e não via no horizonte uma perspectiva para mim. Eu, que tinha aprendido a clinicar presencialmente, acreditava piamente que iria fracassar atendendo online, afinal quem iria querer ser atendido online? Parecia artificial. Mas eu voltei de Aracaju (Sergipe) para Euclides da Cunha (na Bahia) e era atendida virtualmente pela minha psicóloga, e funcionava.
Agora parecia que eu estava mais perto dela, dentro da casa dela. Eu via seus bichinhos, ouvia ela dizer que estava fazendo comida naquele dia e precisaria desligar a panela, como era bom me sentir mais próxima! Mas eu me sentia cada vez mais distante de outras pessoas e possíveis pacientes. Parecia que aquilo nunca ia ter fim. Em uma sessão, minha psicóloga perguntou o que eu estava fazendo e eu disse em tom de tristeza que para minha profissão, nada, mas aprendi a bordar. Ela disse: "tá vendo, você aprendeu algo no meio disso tudo, você usou sua criatividade para alguma coisa". Aquilo me abriu os olhos para me perceber enquanto pessoa e profissional, e minha autoestima mudou desde então, porque aquela frase me acendeu uma fagulha de esperança para acreditar em mim mesma. Ao mesmo tempo, quando eu quis tornar isso uma segunda opção de lucro na pandemia, minha psicóloga me perguntou por que não usar a mesma criatividade na minha profissão para a qual eu tinha estudado tanto?
Com certeza o trabalho que ela estava fazendo ali me tocou e me deu recursos para caminhar na clínica, que era o meu objetivo maior e minha necessidade, eu merecia trabalhar e receber por aquilo. Eu levei aquela lição para a minha prática, além do bordado, a minha arte é clinicar.
Depois de um tempo, eu comecei a clinicar por indicação de uma colega à minha primeira paciente. Confiar em si, acreditar e tomar um primeiro passo é sempre um desafio que exige criatividade e espontaneidade, como propõe o psicodrama. O ato de nascer e criar começa no primeiro respiro – e nunca acaba. Precisamos renascer e nos reinventar todos os dias. O caminho pode ser melhor que o destino. Confie em seu caminhar.
Giovanna S. Pereira
CRP 03/22317