
Introdução:
Existe um mito que paira sobre as relações familiares: o de que “família boa é família que nunca briga”. Muitas pessoas se orgulham de dizer que “nunca discutem” ou que “lá em casa todo mundo se entende sempre”. Mas, na prática clínica, percebo que a ausência total de conflito não é, necessariamente, um sinal de saúde — às vezes, é justamente o contrário.
O papel saudável do conflito
Conflitos são inevitáveis quando pessoas diferentes convivem de forma próxima. Eles não são, por si só, sinais de desamor ou de fracasso, mas oportunidades de crescimento, diálogo e ajuste de expectativas.
Quando um conflito é encarado com respeito, ele permite que sentimentos sejam expressos, que limites sejam estabelecidos e que as relações se tornem mais autênticas.
Quando a paz é só fachada
Famílias “sem conflitos” muitas vezes carregam silêncios pesados. Pode haver medo de se posicionar, dificuldade de expressar emoções ou uma cultura de evitar qualquer assunto que cause desconforto.
Esse falso clima de harmonia pode esconder padrões disfuncionais, como:
Supressão de sentimentos: ninguém fala o que sente para não “estragar o clima”.
Papel de submissão: uma ou mais pessoas evitam se opor para não sofrer represálias emocionais.
Comunicação superficial: tudo se mantém no terreno seguro, mas distante.
E há ainda um risco maior: quando alguém guarda tudo em silêncio por muito tempo, os ressentimentos vão se acumulando. O que poderia ser resolvido em pequenas conversas cresce como uma bola de neve, e quando o conflito finalmente aparece, ele vem carregado de mágoas antigas, explodindo de forma muito mais dolorosa. O silêncio, nesse caso, não evita conflitos — apenas os adia e os transforma em algo mais difícil de lidar.
Conflito como expressão de vínculo
O objetivo não é viver brigando, mas compreender que o atrito faz parte da construção de vínculos verdadeiros. Uma família saudável não é a que nunca discute, e sim a que consegue se ouvir, discordar e, depois, reconstruir o diálogo.
Evitar todo conflito é como pintar a fachada de uma casa que está com as paredes trincadas: por fora parece bonita, mas por dentro as rachaduras só aumentam.
Convite à reflexão:
Se na sua família “nunca há problemas”, vale perguntar:
Será que todos estão realmente bem ou estamos evitando conversas difíceis para não mexer em feridas?
O afeto genuíno não teme o diálogo — mesmo quando ele exige coragem.
Psicólogo
Alan Schmitt Rossoni
CRP 08/28007
Instagram: @psicologo.alanrossoni
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