O ciúme faz parte da realidade de nosso inconsciente, ou seja, ele é estrutural em nós. Ele tem relação com o nosso primeiro objeto do amor que pode ser a mãe, pai, ama de leite, ou qualquer outro que se responsabilize pelos cuidados e investimentos do bebê.

A mãe é a primeira pessoa que cria um vínculo forte com a criança. Por cuidar dela — dando comida, limpando e demonstrando carinho —, ela se torna o primeiro amor da criança. Sem esses cuidados, a criança ficaria totalmente perdida e não sobreviveria.

Ela também é responsável por proporcionar à criança suas primeiras experiências de conforto e satisfação, protegendo-a de um sentimento de abandono e desespero. Em outras palavras, ela é quem garante que a criança se sinta segura e amparada nos primeiros momentos da vida.

No início, o bebê acredita que é o centro do mundo para a mãe, como se fosse a coisa mais importante e poderosa para ela — aquilo que a completa. Porém, com o tempo, a criança percebe que a mãe também olha para outras pessoas (como o pai, um irmão ou qualquer outra figura importante). Isso faz com que ela entenda que não é a única coisa que importa para a mãe.

Assim, a criança descobre que não pode satisfazer totalmente os desejos da mãe, pois ela também busca outras coisas além do filho. Isso gera um sentimento de falta, tanto na criança quanto na mãe. A criança, então, passa a imaginar quem ou o que poderia ser essa "coisa poderosa" que completaria a mãe.

O ciúme surge quando a criança percebe que não é o único objeto de amor da mãe, sentindo-se deslocada por outro (pai, irmão, etc.). Essa experiência marca a descoberta de que ninguém pode completar totalmente o outro — nem a mãe é toda para a criança, nem a criança é tudo para a mãe. Esse "vazio" gera uma busca imaginária por algo que preencha essa falta, alimentando desejos e rivalidades. Na vida adulta, o ciúme repete essa dinâmica: o medo de perder o amor do outro revela o temor de não ser suficiente, assim como na infância. Portanto, o ciúme não é só sobre o rival, mas sobre a própria insegurança diante da impossibilidade de ser "tudo" para alguém.