
As diferentes linhas de abordagem da Psicologia definem a psicose a partir de seus próprios referenciais teóricos e metodológicos. Embora o termo geralmente se refira a uma condição mental que envolve a perda de contato com a realidade, as nuances de sua compreensão variam significativamente.
Psicanálise
Na psicanálise, a psicose é entendida como um conflito entre o ego e a realidade externa, onde o indivíduo se desliga do que considera insuportável, substituindo-o por uma realidade alternativa, um delírio.
Sigmund Freud via a psicose como um afastamento da realidade devido a frustrações intensas. O ego, dominado pelos impulsos do id, cria um novo mundo interno e externo para satisfazer esses desejos.
Jacques Lacan introduziu o conceito de foraclusão (ou forclusão), indicando que o psicótico exclui certos elementos de sua realidade interna, projetando-os externamente. O problema para o psicótico está sempre no outro, no externo.
Os sintomas clássicos incluem delírios (falsas crenças fixas) e alucinações (percepções sensoriais sem estímulo externo). A linguagem também pode apresentar particularidades, como o uso desmetaforizado.
Freud distinguiu dois tipos principais de psicose: a esquizofrenia e a paranoia, ambas caracterizadas por delírios e alucinações, mas com diferenças na representação que o sujeito tem de si mesmo.
Behaviorismo (Análise do Comportamento)
A abordagem comportamental foca nos comportamentos observáveis e nas interações do indivíduo com o ambiente.
A psicose, sob essa ótica, é vista como um conjunto de comportamentos alterados, desorganizados ou inapropriados. Não se preocupa tanto com os mecanismos internos, mas sim com a manifestação comportamental.
Sintomas como delírios e alucinações são descritos em termos de respostas comportamentais atípicas ou disfuncionais, possivelmente resultantes de contingências ambientais específicas ou desequilíbrios neurobiológicos.
A análise funcional busca compreender como esses comportamentos se manifestam e quais fatores (ambientais, genéticos, etc.) podem estar influenciando sua ocorrência e manutenção. O foco está em modificar esses comportamentos através de intervenções comportamentais.
Psicologia Cognitiva
A psicologia cognitiva se concentra nos processos mentais, como pensamento, memória, percepção e atenção.
Na psicose, a perspectiva cognitiva examina as distorções nesses processos. Os delírios podem ser entendidos como crenças irracionais ou falsas inferências sobre a realidade, enquanto as alucinações envolvem percepções sensoriais anormais.
A dificuldade em organizar pensamentos e a desorganização do pensamento são aspectos centrais, levando a uma comunicação incoerente.
O foco terapêutico pode envolver a identificação e reestruturação dessas crenças disfuncionais e o desenvolvimento de estratégias para gerenciar os sintomas cognitivos.
Psicologia Humanista
A abordagem humanista, centrada na pessoa, enfatiza a experiência subjetiva, o crescimento pessoal e a tendência inata à autorrealização.
A psicose pode ser vista como resultado de experiências gravemente perturbadas, especialmente na infância, que afetam a imagem e o conceito de si mesmo, bem como as relações interpessoais.
A dificuldade em comunicar e integrar experiências e a perda do "eu" podem ser aspectos centrais. A psicose pode representar um bloqueio na capacidade de ser quem se é.
Embora a pessoa possa apresentar sintomas como alucinações e delírios, o foco terapêutico seria na compreensão da vivência única do indivíduo, na validação de sua realidade interna e no suporte ao seu potencial de crescimento, mesmo em meio à desorganização.
Psicologia Sistêmica
A abordagem sistêmica compreende os indivíduos dentro de sistemas de relações, como a família.
A psicose é vista como uma manifestação dentro de um sistema, muitas vezes refletindo dinâmicas de comunicação disfuncionais ou padrões de interação problemáticos.
As comunicações ambíguas e paradoxais dentro do sistema familiar podem contribuir para a desorganização do pensamento e a "perda do eu" no indivíduo que manifesta sintomas psicóticos.
O tratamento foca em modificar os padrões de comunicação e interação dentro do sistema, buscando restabelecer um equilíbrio e promover uma comunicação mais clara e funcional.
Em resumo, enquanto a psicanálise explora os conflitos internos e a construção de realidades alternativas, o behaviorismo foca no comportamento observável, a cognitivismo nas distorções do pensamento, a humanista na experiência subjetiva e o sistêmico nas dinâmicas relacionais. Cada linha oferece uma lente única para entender e abordar a complexidade da psicose.





