
Você já parou para pensar que o modo como sentimos, sofremos e até adoecemos emocionalmente pode estar ligado à cultura em que vivemos? Muitas vezes, quando falamos em saúde mental, pensamos em algo universal — como se ansiedade, depressão ou luto se manifestassem do mesmo jeito em todas as pessoas, em todos os lugares.
Mas não é bem assim.
O DSM-5-TR, manual usado por profissionais da saúde mental, reconhece que a cultura tem um papel central na forma como percebemos, expressamos e lidamos com o sofrimento psicológico. E isso muda tudo.
O que é “sofrer” — e quem decide?
Em algumas culturas, uma pessoa ansiosa pode dizer que sente “calafrios nas costas” ou “um peso no peito”. Em outras, pode falar que está “com o coração apertado” ou “com os nervos à flor da pele”. A forma de descrever o que se sentevaria muito de cultura para cultura.
Além disso, o que é considerado um “problema” ou um “transtorno” também depende do contexto.
👉 Em alguns lugares, falar com os mortos pode ser espiritualidade. Em outros, pode ser interpretado como alucinação.
👉 Em certas culturas, ficar dias isolado após uma perda é sinal de respeito. Em outras, pode ser visto como depressão.
A cultura molda nossa forma de sentir e reagir
A cultura influencia:
Como expressamos emoções:há culturas que incentivam o silêncio e o autocontrole, enquanto outras valorizam a expressão intensa dos sentimentos.
A visão sobre doenças mentais:em alguns contextos, buscar terapia ainda é visto como fraqueza ou “coisa de louco”.
O tipo de ajuda que buscamos:muitas pessoas procuram primeiro líderes religiosos, curandeiros ou conselhos de amigos antes de procurar um psicólogo ou psiquiatra.
O sofrimento tem endereço — e identidade
Um exemplo importante é o conceito de“síndromes culturalmente específicas”. O DSM-5-TR descreve condições que surgem em determinados contextos culturais, como:
Ataque de nervos(comum em culturas latino-americanas): crises de choro, gritos e sensação de descontrole após um evento estressante.
Susto(em países andinos e da América Central): acredita-se que o espírito da pessoa “sai do corpo” após um susto, gerando sintomas físicos e emocionais.
Taijin kyofusho(no Japão): medo intenso de envergonhar os outros com sua presença, cheiro ou expressão facial.
Esses exemplos mostram que a mente humana é afetada pelas crenças, pelos costumes e até pelo idioma.
Então quer dizer que saúde mental é diferente para cada cultura?
Sim — e não.
Os transtornos existem em todos os lugares, mas a forma como as pessoas os vivem, nomeiam e enfrentam é profundamente influenciada pela cultura.br>Isso não significa que os diagnósticos perdem seu valor, mas que eles devem ser feitos com sensibilidade, empatia e atenção às particularidades de cada pessoa.
O que isso muda na prática?
Para quem sofre, entender que sua dor não precisa se encaixar em um padrão pode ser libertador.br>Para quem cuida, como psicólogos e psiquiatras, lembrar que cada paciente tem uma história única é essencial para um tratamento mais humano e eficaz.
Saúde mental também é pertencimento
Reconhecer a influência da cultura na saúde mental é uma forma de respeito. É acolher sem julgamento. É entender que não existe uma só maneira certa de sentir.
E, acima de tudo, é lembrar que ninguém precisa se curar sozinho — nem se sentir estranho por sofrer diferente.
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