
O amor é muito valorizado na nossa cultura. Muitos filmes, livros e séries mostram protagonistas que vivem angústias e sofrimentos, mas que, ao encontrar a pessoa amada, passam a se sentir completos e felizes. É como se o relacionamento amoroso fosse capaz de trazer um sentido à existência e preencher todas as faltas. Essa ideia tem origem na Grécia Antiga, quando Platão escreveu que todos possuímos uma “alma gêmea”, a parte que nos falta. Assim, estar sem um relacionamento amoroso seria estar desamparado e incompleto. Mas será mesmo que, ao ter um relacionamento, nada vai me faltar?
Essa valorização exagerada do amor romântico traz a ilusão de que, se o amor for verdadeiro, não haverá mais angústia, problemas, faltas ou a sensação de estar perdido. Esse desejo vem da nossa infância, do tempo em que alguém cuidava de todas as nossas necessidades. A necessidade nasce da falta: quando algo me falta, eu passo a necessitar/desejar aquilo. E se nada me faltar, não terei necessidade e não desejarei mais nada? A falta é parte essencial da vida humana. Se um relacionamento realmente me completasse totalmente, o desejo desapareceria. É por isso que ouvimos histórias de casais que, mesmo sem grandes conflitos, já não sentiam desejo um pelo outro. Não queriam conversar, compartilhar o dia, sair juntos ou viver a intimidade. Em outras palavras, é a falta que abre espaço para o amor existir.
Como posso amar desse jeito? Amar e ser amado não é tão simples quanto parece. Às vezes estamos em uma relação com amor, mas, mesmo assim, ela não está dando certo. Querer suprir todas as demandas do meu parceiro pode não ser saudável para a relação. Da mesma forma, querer que o meu parceiro consiga satisfazer todos os meus desejos também não é saudável. É importante se perguntar como é para você a experiência de amar e ser amado, ou de desejar e ser desejado. Quais expectativas você tem sobre isso? Como enxerga o seu papel dentro da relação? Você consegue viver em uma relação admitindo as suas próprias faltas?
Construir e desconstruir a ideia do amor romântico não é fácil. É preciso repensar como é a sua relação com o outro e, principalmente, consigo mesmo. A psicoterapia é um espaço seguro e sigiloso em que o paciente pode pensar, se questionar e se escutar sobre esse assunto, mudando sua visão e posicionamento diante das relações.