Em 2024, o país contabilizou mais de 470 mil afastamentos do trabalho devido a transtornos mentais, atingindo o maior índice desde 2014. Os números são alarmantes e refletem uma crise silenciosa que se intensificou nos últimos anos. O aumento dos afastamentos do trabalho por questões de saúde mental atingiu níveis recordes, registrando um crescimento de mais de 400% desde o início da pandemia, segundo dados da Previdência Social.
Esse fenômeno revela uma realidade preocupante: a deterioração do bem-estar psicológico dos trabalhadores brasileiros. Mas o que está por trás desse crescimento exponencial? E, mais importante, como podemos reverter essa tendência preocupante?

A pandemia de COVID-19 serviu como um catalisador para problemas de saúde mental preexistentes, ao mesmo tempo em que desencadeou novos transtornos. O isolamento social, o medo da doença, as perdas de entes queridos e as incertezas econômicas agravaram quadros de ansiedade e depressão. Paralelamente, o ambiente de trabalho tornou-se ainda mais desafiador, seja pelo excesso de demandas no regime remoto, seja pelo retorno presencial em condições adversas. A sobrecarga de tarefas, a insegurança profissional e a pressão por produtividade intensificaram o desgaste emocional dos trabalhadores.
O perfil das pessoas afetadas
Os dados do INSS revelam o perfil dos trabalhadores afastados: a maioria são mulheres (64%), com idade média de 41 anos, e diagnosticadas principalmente com ansiedade e depressão. O período de afastamento pode chegar a três meses.

Especialistas apontam fatores sociais para a maior incidência entre mulheres: sobrecarga, menor remuneração, responsabilidade familiar e violência. Elas ganham menos que os homens em 82% das áreas, enfrentam aumento de 10% nos feminicídios nos últimos cinco anos e foram as mais impactadas pela crise, com maior desemprego e trabalho não remunerado.
Os principais transtornos mentais no ambiente de trabalho
Entre os transtornos mentais que mais impactam os profissionais, destacam-se a depressão, a ansiedade e a síndrome de burnout.
➡️ Depressão: Caracterizada por tristeza profunda, perda de interesse e falta de energia, compromete diretamente a produtividade e a capacidade de concentração.
➡️Ansiedade: Se manifesta por meio de preocupações excessivas, crises de pânico, insônia e sintomas físicos como palpitações e falta de ar.
➡️Síndrome de Burnout: Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional, resulta do estresse crônico no trabalho e leva ao esgotamento físico e mental, à sensação de ineficácia e ao distanciamento das atividades laborais. Segundo um levantamento da International Stress Management Association (ISMA-BR), o Brasil é o segundo país com maior índice de burnout no mundo, atrás apenas do Japão.
Os transtornos mentais têm múltiplas causas, sem uma explicação única. Especialistas ouvidos pelo g1 apontam alguns fatores, incluindo as marcas deixadas pela pandemia:
➡️ Luto por mais de 700 mil vidas perdidas;
➡️ Estresse emocional após anos de isolamento;
➡️ Insegurança financeira com o alto custo de vida – os alimentos subiram 55% de 2020 a 2024;
➡️ Crescimento da informalidade;
➡️ Fim de ciclos, como o aumento de 16% nas separações durante a pandemia.
O papel da terapia na prevenção e tratamento
Diante desse cenário, a terapia se apresenta como uma ferramenta essencial para a promoção da saúde mental e a prevenção de afastamentos. Ao oferecer um espaço seguro e acolhedor, a terapia permite que o indivíduo expresse suas emoções, identifique gatilhos de seus transtornos, desenvolva estratégias de enfrentamento e ressignifique suas experiências.
Contudo, ainda existe uma barreira significativa para a adesão ao tratamento: o estigma em torno da psicoterapia e a percepção equivocada de que buscar ajuda é sinal de fraqueza. Superar esse tabu é fundamental para incentivar o autocuidado e reduzir o impacto dos transtornos mentais na vida profissional.
Muitas vezes vista como um luxo, a terapia é, na verdade, um investimento com ótimo custo-benefício. Ao prevenir o agravamento de transtornos mentais, a terapia evita afastamentos prolongados, melhora a qualidade de vida e aumenta a produtividade no trabalho. Além disso, a terapia online democratizou o acesso ao tratamento, oferecendo maior flexibilidade de horários, comodidade e, em muitos casos, custos mais acessíveis.
A responsabilidade das empresas na saúde mental
Além disso, muitas empresas já estão percebendo que investir na saúde mental dos colaboradores não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também uma estratégia inteligente de negócios. Estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostram que ambientes corporativos saudáveis reduzem em até 60% os índices de absenteísmo e aumentam significativamente a retenção de talentos.
A implementação de programas de apoio psicológico, flexibilização da jornada de trabalho e iniciativas de bem-estar têm demonstrado resultados positivos em diversos setores. Um exemplo é a gigante de tecnologia Google, que oferece sessões de terapia gratuitas para seus funcionários e incentiva pausas regulares para descanso mental.
A nova regulamentação e o futuro do trabalho
A recente atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que estabelece diretrizes para o gerenciamento de riscos ocupacionais, reforça a necessidade de as empresas considerarem os aspectos psicossociais no ambiente de trabalho. Com essa nova regulamentação, as organizações passam a ser obrigadas a identificar e avaliar os riscos psicossociais, implementar medidas preventivas e promover a saúde mental dos colaboradores. Essa mudança representa um avanço significativo na proteção dos trabalhadores e na construção de uma cultura organizacional mais humanizada.
Um alerta que não se pode ignorar
O aumento dos afastamentos por transtornos mentais é um sinal de alerta que exige uma resposta urgente e coordenada. É fundamental desmistificar a terapia, torná-la mais acessível e fortalecer programas de promoção da saúde mental no ambiente corporativo.
Ao investir no bem-estar emocional de seus colaboradores, as empresas não apenas cumprem seu papel social, mas também criam um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e sustentável. O futuro do trabalho precisa ser pautado não apenas pelo desempenho, mas também pelo equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Afinal, um trabalhador saudável é um trabalhador mais engajado, criativo e resiliente.
E você já enfrentou algo assim no seu trabalho? Qual a sua opinião? Deixe pra mim nos comentários.
Te vejo no próximo artigo!
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Ojalá existan plazos donde se marquen las fechas , tiempos, para que se materializen los nuevos proyectos para regular el futuro laboral de aquellas mujeres. La justicia para ellas no debe tardar más. Gracias por refrescar estos temas al público Doctora Marciao. Esto es una señal de que usted busca temas de urgencia social para debatir y eso marca su interes profesional y humanitario. Todo suma. felicito!. Saludos cordiales. Gustavo Herrera