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Foto do escritorThiago Rodrigues

Desconexão na Era Digital: Reflexões sobre Sexo, Pornografia e Identidade.

Acredito que todos já ouviram falar ao menos uma vez sobre vício e dependência de substâncias psicoativas, álcool e outros tipos de drogas, no entanto, nos últimos anos tenho percebido que um fenômeno se torna mais e mais comum no consultório: Pessoas com vício em pornografia.

Quando falo de vício, me refiro aqui àqueles que por ventura não conseguem controlar ou refrear a vontade de assistir a um filme, ver fotos eróticas e que ao mesmo tempo em que estão de alguma forma dando destino aos seus desejos, não ficam satisfeitos com a prática e parecem sempre querer mais, por isso incluem o ato de assistir pornografia em momentos de intimidade com os parceiros, ao acordar já buscam o estímulo pela internet e ao contrário do que muitos podem pensar o ato de assistir pornografia nem sempre está associado ao ao ato da masturbação ou outro qualquer.

Então, neste contexto, creio que devemos levantar alguns questionamentos em torno deste ponto. Um deles e o primeiro que pretendo sanar é: Vício em pornografia é vício mesmo? Ou é só algo passageiro e esperado em certas situações de vida ou até mesmo em uma idade específica?

O próximo passo seria refletir, então, sobre como podemos entender esta problemática para que possamos ajudar o sujeito a atravessar este momento e como podemos, sem julgamentos, tratar dessa desordem.

A pornografia online oferece um ambiente virtual onde fantasias e desejos podem ser facilmente acessados, muitas vezes sem restrições ou consequências aparentes. Esse acesso ilimitado e facilitado tem impactos significativos na vida das pessoas, que podem se traduzir em alterações neuroquímicas, disfunções sexuais, problemas de relacionamento e até mesmo o desenvolvimento de comportamentos compulsivos.

Apesar da falta de dados e porcentagens atualizados, estudos anteriores revelaram uma alta taxa de consumo de pornografia. Por exemplo, uma pesquisa realizada em 2016 pela revista americana "Archives of Sexual Behavior" descobriu que 88% dos homens e 45% das mulheres haviam assistido pornografia em algum momento de suas vidas. Além disso, uma revisão sistemática publicada em 2017 na revista "JAMA Psychiatry" indicou que o vício em pornografia pode estar associado a uma série de problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão, baixa autoestima e disfunções sexuais.

Em Psicanálise o tratamento do vício em pornografia envolve a análise da relação do sujeito com seu desejo e a investigação das causas subjacentes que levam ao uso compulsivo desse recurso. O analista busca auxiliar o indivíduo a reconhecer e lidar com a falta e a angústia subjacentes que levam ao comportamento em torno do vício. O objetivo final é ajudar o sujeito a encontrar maneiras mais saudáveis e autênticas de satisfazer suas necessidades e desejos, restabelecendo assim uma relação mais equilibrada com sua sexualidade.

Antes, porém, de adentrarmos na Psicanálise, em sua forma de ver e tratar esta questão, creio que seria interessante entendermos de maneira mais completa algumas questões subjacentes ao tema. No livro "O Erotismo" de Georges Bataille, somos convocados a compreender com profundidade os meandros do desejo humano, o texto em si propõe uma exploração audaciosa e por vezes, intransigente do que entendemos por desejo e por Desejo em Psicanálise. Bataille argumenta que o erotismo está intrinsecamente ligado à transgressão e ao tabu, oferecendo uma perspectiva sobre a relação entre prazer, proibição e liberação. Nesse contexto, o vício em pornografia pode ser visto como uma tentativa de buscar o erótico em um mundo que frequentemente reprime e nega essa faceta do desejo humano.

Foucault, em seu livro "O Uso dos Prazeres," o segundo volume da série "História da Sexualidade," propõe uma teoria que pode nos ajudar a olhar esta problemática de uma maneira mais completa sob o viés socio-cultural. Ele destaca como as sociedades ocidentais têm regulado, moldado e controlado a expressão dos desejos sexuais ao longo da história. O autor argumenta que a sexualidade é uma construção social e histórica, e que a busca do prazer sexual não é uma característica inata, mas sim um fenômeno moldado por normas culturais e sociais. Neste contexto, ele desafia a ideia de que a sexualidade é reprimida e enfatiza que as sociedades têm investido em técnicas de confissão e controle do sexo, promovendo uma moral sexual específica.

A relação entre este trabalho e o vício em pornografia pode ser explorada a partir da compreensão de como as normas sociais influenciam a maneira como vemos e experimentamos o desejo. O que conhecemos hoje como vício em pornografia pode ser visto como um exemplo contemporâneo de como a sociedade molda a sexualidade.

A pornografia, muitas vezes, representa uma forma de desejo sexual que não se encaixa nas normas tradicionais, o que pode levar a uma sensação de transgressão ou rebeldia. No entanto, esse desejo transgressor é frequentemente moldado por representações estereotipadas e idealizadas da sexualidade, que podem ser problemáticas. A partir da análise de Foucault podemos pensar o vício em pornografia não apenas como um problema individual, mas como um fenômeno que reflete as relações entre desejo, poder e normas sociais. Esta obra nos convoca a explorar as dinâmicas culturais e sociais que influenciam nossa relação com a sexualidade e, por extensão, com o vício em pornografia, tema deste texto.

Jacques Lacan, por sua vez, nos oferece uma chave para compreender a intricada ligação entre linguagem, desejo e identidade. Para Lacan, a linguagem não é meramente um meio de comunicação, mas o próprio alicerce do pensamento e da formação do sujeito. No contexto do vício em pornografia, a teoria nos leva a considerar como o discurso da pornografia pode impactar a construção da identidade sexual, levando o indivíduo a buscar no visual o que a linguagem falha em proporcionar. Podemos compreender que a busca pelo erótico e a busca pela conexão autêntica estão sempre entrelaçadas. A linguagem, como matriz fundamental do psiquismo humano, se revela como o ponto de partida para desvendar as complexidades dessa dinâmica, e a compreensão dessas interações pode ser o primeiro passo para recuperar uma relação saudável com a sexualidade e a intimidade.

Se você acredita que a fala pode ser curativa e se de alguma forma algo do que foi dito aqui te chamou atenção ou reconheceu algo do seu dia-a-dia, me mande uma mensagem e vamos começar o seu processo?


Te espero! Thiago Rodrigues Psicólogo - CRP 11/10198 Contato: (85) 98925-4549





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