Hoje acontece a 95.ª cerimônia do Oscar e o filme Tudo em todo lugar ao mesmo tempo deve ser um dos grandes protagonistas do evento.
Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (Everything Everywhere All at Once) é um filme de 2022, escrito e dirigido por Dan Kwan e Daniel Scheinert conta com a participação de Michelle Yeoh, Stephanie Hsu, Jamie Lee Curtis, entre outros.
A história segue a vida de uma mulher chamada Phyllis (interpretada por Yeoh) que descobre que tem a habilidade de viajar por universos paralelos. Durante sua jornada, Phyllis conhece versões alternativas de si mesma e de pessoas próximas a ela, incluindo sua filha Mirabelle (interpretada por Hsu).
A partir deste momento, é importante saber que o texto tem alguns spoilers e não é recomendado para quem não assistiu ao filme.
Recado dado, vamos lá.
Antes de mais nada, esqueça essa coisa de multiversos, universos paralelos, versões alternativas das pessoas, ou seja lá como preferirem. Tudo isso no filme é apenas uma metáfora que descreve o quanto as pessoas se apegam a realidades alternativas de si próprio. Uma realidade muito comum descrita nas redes sociais, lugar onde não existem defeitos, que a ostentação de vidas fora da realidade são aplaudidas e sustentam uma imagem de perfeição que disfarça fraquezas e limitações humanas.
Ao longo do filme, Phyllis descobre que está vivendo um período bastante conturbado na sua vida. Ela demonstra uma imagem de uma mulher fracassada na sua vida profissional, familiar e financeira. A personagem tem sérios problemas fiscais na lavanderia que gerencia ao lado do marido, tem uma relação bastante difícil com o marido e a sua filha e percebe-se sem saída diante dos obstáculos da sua vida.
Em meio ao desespero, percebe que sua única alternativa é se conectar com suas versões de outros universos e nisso, descobre uma ameaça que pode destruir tudo o que existe.
Aqui percebemos que, quanto mais a personagem tenta lidar com seus problemas se conectando com seus “eus” de realidades alternativas, todos eles baseados em escolhas diferentes que fez em sua vida e que lhe proporcionaram habilidades diferentes para cada realidade, mais este “grande mal” se fortalece.
Seria como dizer que a única forma de lidar com um obstáculo seria ter tomado uma decisão diferente na sua vida.
Durante um certo momento do filme, a personagem é descrita como a “sua pior versão possível”, exatamente por conta de várias decisões das quais entende que foram equivocadas.
Somente a partir do momento em que Phyllis começa a aceitar sua realidade atual, bem como suas limitações e potencialidades é que existe algum progresso na trama e parte dos seus problemas começam a ser solucionados.
Esta transformação no personagem é demonstrando simbolicamente quando Phyllis cola um olho de plástico na sua testa (hábito do qual ela odeia no seu marido) e, a partir deste momento, ela entende que essa é a unica realidade que existe e não existem formas de escapar dela. Ou seja, por mais que pareça doloroso, ela abandona a imagem de perfeição que as realidades alternativas poderiam lhe trazer.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjz2aXBZw5k7JebkY8HcGU_aeXoqEqFDuL3Te0CLC_KKfRt_9_gOgY0cl5MbtOYR8t1TkUI4Vp50Ksn5qowwol1W884cKgdLlE4a_5wqAerW-a1p9kpHAA2jeMC1BaIi0iGz8aCKJmU0pgy5BfKv0JJWx2vBRcTfqMA-iL7Hhnxgtsy6gtIBWM4hDNRFw
Afinal de contas, quem não gostaria de voltar uma semana atrás com exatamente os 6 números sorteados na Mega Sena? Tenho certeza que isso resolveria 99% dos nossos problemas.
No entanto, é impossível viver baseado somente no “o que aconteceria se? ”. Aceitar sua realidade, bem como pontos fracos, limitações e pontos a melhorar é a única forma de lidar com o mundo como ele é. Afinal, como é retratado no filme, até mesmo ter "mãos de salsicha" fazem você desenvover grandes habilidades com os pés.
Outro ponto importante é demonstrado pela personagem de Mirabelle, que durante a trama demonstra ter poderes e habilidades praticamente infinitos. No entanto, tanto poder lhe traz uma intensa angústia descritos por meio de comportamentos quase obsessivos de querer controlar todas as suas realidades, sendo que, no final das contas, descobre que a única forma de realmente ter controle de tudo é destruindo todo o universo e todas as suas realidades.
A mensagem aqui é de que é impossível ter controle de tudo, e, mesmo que fosse possível, uma vida baseada em controle é uma vida vazia e que não vale a pena ser vivida. Novamente, a única alternativa é aceitar sua realidade, bem como os desafios e obstáculos que existem e que estão por vir.
Por fim, o filme demonstra, por meio de uma narrativa visualmente impressionante, um mundo imaginativo e envolvente que desafia a percepção do público sobre a realidade e a existência humana.
Renato Nakamura
Psicólogo CRP: 06/157958
Contato: (11) 98237-1866
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