Primeiro caso clínico.
Minha primeira experiência clínica como psicólogo foi atender uma pessoa que se identificava como não binária.
Não diferente de qualquer paciente, foi uma experiência desafiadora, conhecer uma realidade completamente diferente da que eu vivi. Da mesma forma que as sessões eram um desafio, também se tornavam um momento de catarse, e uma aula de diversidade para mim. Uma via de mão dupla, uma construção única que só foi possível através da escuta ativa e da compreensão da individualidade do ser.
À medida que o processo avançava, tanto ela desenvolvia uma percepção mais saudável a respeito de si, como eu me construía como terapeuta, a percepção vem por meio de encontrar um lugar confortável e receptivo para os sentimentos, as revoltas, os incômodos, enfim, um lugar livre de julgamentos e preconceitos, que torne possível a escuta até de si mesmo, um convite para o autoconhecimento.
O processo de alta
A alta veio após 2 anos de sessões, e foi um caminho belo, com muitos desafios, mas com muita força de vontade e superações que marcaram esse processo.
É uma pessoa de uma força incomparável, que pode perceber isso através dos encontros consigo mesma no momento da terapia.
É fato que a experiência terapêutica transforma não apenas a vida do paciente, mas também a vida do terapeuta, é um caminho de duas vias (o tanto que vai, é o tanto que volta). E eu sou grato por todo o aprendizado, e por cada segundo de nossas sessões.
Todo paciente é especial, e ganha um espaço no nosso coração, mas o primeiro marca toda uma carreira.
A psicologia é acima de tudo inclusiva e respeita a diversidade do ser
A terapia é inclusiva, nunca pode ser excludente, um profissional que tenha uma escuta ativa é essencial para o desenvolvimento do manejo, livre de preconceitos e limitações ideológicas.
Todos merecem ter o melhor que a psicologia pode oferecer, por isso me coloco ao seu dispor, para ser esse canal direto entre a psicoterapia e você!
A ciência psicológica vem produzindo uma vasta literatura sobre os efeitos do estresse crônico a que pessoas LGBT são submetidas diariamente por viverem em contextos sociais invalidantes, hostis e violentos (American Psychological Association [APA], 2009; Meyer, 1995; 2003).
O preconceito é uma inclinação para agir, pensar e sentir a respeito de determinados grupos e indivíduos. Simplificar, agrupar e generalizar são processos inerentes ao cérebro humano, por um princípio de economia cognitiva. A diferença entre a simples generalização e o preconceito é que esse último é baseado em hierarquias que estabelecem que certas pessoas são superiores e outras, inferiores, alimentando estereótipos, ou seja, visões distorcidas e generalistas a respeito de pessoas somente porque pertencem a um grupo ou segmento específico.
Isso gera avaliações individuais com base em características negativas atribuídas a esse grupo/segmento. Essas hierarquias são fomentadas e tendem a crescer e se reproduzir em contextos nos quais a pluralidade humana não seja garantida e incentivada, e isso se torna especialmente alarmante quando consideramos a diversidade sexual e de gênero (Costa, 2015).
A população LGBT está sujeita a escores alarmantes de preconceito, com consequências fisiológicas diretas e desfechos psicológicos negativos (Herek & Garnets, 2007). Existe uma relação significativa entre experiências de discriminação, expectativas de rejeição e homofobia/transfobia internalizadas (Meyer, 2003). Os impactos não são apenas simbólicos, subjetivos; são materiais, concretos. As pessoas sentem na pele a ferida do estigma, do ódio, da incompreensão, da apatia.
Há pesquisas que apontam que a expectativa de vida de pessoas LGBT é reduzida em ambientes explicitamente contrários à diversidade sexual e de gênero, colocando essa população em risco para mortes por suicídio, homicídio e doenças cardiovasculares (Bockting et al., 2013; Lick, Durso, & Johnson, 2013).
Considerações finais:
Não há como contestar fatos científicos, de fato precisamos nos ater ao que temos de palpável para fazermos a mudança saudável em nosso meio.
Você que é psicólogo observe sua atitude perante seu paciente, verifique sua ética, sempre respeite a quem está diante, respeite a si mesmo e a profissão da qual você exerce. Não há qualquer justificativa para preconceitos na sociedade em que vivemos, e muito menos deve haver espaço Clínica de psicoterapia para tal, é responsabilidade de todo ser humano respeitar a diversidade de manifestação da vida, a nós psicólogos cabe oferecer um lugar de acolhimento, para assim começarmos a construir espaços de promoção a saúde mental.
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