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Foto do escritorMariana Freitas

Sobre o tempo de travessia e psicoterapia.




“Tempo de travessia” é um poema de Fernando Pessoa e nesse texto buscarei construir um paralelo com esse processo que faz parte da vida e também diz sobre um tempo que é vivido na psicoterapia.


Travessia é um movimento de passagem de um estado a outro, é o processo que ocorre no entre desses dois polos, do antigo estado à construção de um novo. A travessia também marca um movimento de transformação que se faz com o corpo e na experimentação de novos passos.

Assim como no poema, travessia pode ser um tempo de desprendimento do que foi, do que não faz mais sentido e não cabe mais, do que precisa ser repensado naquilo que produz em nós, no que precisa ser mudado quando a vida está convocando e pedindo passagem para existir de outra maneira. A vida pede passagem de muitas formas; as angústias e adoecimentos também podem ser sintomas e sinais daquilo que está pedindo por travessia.


Existir implica num constante processo de mudança e isso não é controlável por nós; é parte do viver. Vida é movimento e a partir de nossas vivências, experiências, encontros e acontecimentos, que vamos compondo quem estamos sendo, nos tornando a todo momento e consequentemente, também vamos nos desfazendo de outros “eus” que ficam pelo caminho no tempo.


A travessia também faz parte da vida e, diferente dessas constantes mudanças cotidianas do viver, pode ser entendida como um movimento mais intensivo, um tempo para digerir, para inventar, criar a ponte para atravessar de um território existencial para outro.


Penso que o processo psicoterapêutico também é feito de travessias. A clínica como um espaço de escuta de si, de acolhimento, de produção de sentidos, de criação de outras perspectivas e desvios, é uma caminhada que também busca construir pontes para atravessar muitas vezes alguns abismos e recriar outras rotas.


Sustentar a vida nas travessias é construir o caminho enquanto se caminha e atravessar é ter direito a si mesmo, apropriar-se da própria vida na descoberta de suas múltiplas possibilidades de existência. E, como na proposta final do poema, diferente de ficar à margem de nós mesmos, é ter autonomia e ser protagonista da própria história.


Psicóloga Mariana Freitas CRP 05/55372

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