
A divergência fundamental entre a Psiquiatria e a Antipsiquiatria no que se refere aos transtornos mentais reside na própria concepção do que constitui uma "doença mental".
Psiquiatria: A Perspectiva Biomédica e Nosológica
A psiquiatria, em sua vertente mais tradicional e hegemônica, opera sob um modelo biomédico. Essa abordagem entende os transtornos mentais como doenças reais, com bases biológicas, neuroquímicas e genéticas específicas, embora reconheça a influência de fatores psicológicos e sociais. O objetivo é identificar, classificar e tratar essas "doenças" com base em critérios diagnósticos objetivos, como os encontrados no DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e na CID (Classificação Internacional de Doenças).
Para a psiquiatria, o foco está nos sintomas que se manifestam no indivíduo, vistos como indicadores de uma disfunção subjacente. O tratamento, frequentemente, envolve o uso de medicamentos psicotrópicos para corrigir desequilíbrios neuroquímicos e psicoterapia para auxiliar no manejo dos sintomas e na adaptação social. A ênfase é na cura ou no controle da doença individual.
Antipsiquiatria: Crítica à Medicalização e Ênfase no Contexto Social
A antipsiquiatria, por outro lado, questiona a própria premissa da existência de "doenças mentais" como entidades nosológicas comparáveis às doenças físicas. Seus críticos argumentam que o que é rotulado como transtorno mental é, na maioria das vezes, uma expressão de sofrimento humano complexo, moldado por fatores sociais, culturais, políticos e existenciais, e não uma patologia intrínseca ao indivíduo.
A antipsiquiatria vê a medicalização e a psiquiatrizacão como um mecanismo de controle social, onde comportamentos considerados desviantes ou indesejáveis são patologizados. Em vez de buscar uma "cura" para uma doença inexistente, a antipsiquiatria propõe uma desconstrução das categorias diagnósticas e uma maior atenção ao contexto biopsicossocial em que o indivíduo está inserido. O sofrimento é compreendido como uma resposta, por vezes radical, a realidades difíceis e opressoras, e não como um defeito biológico.
A principal divergência, portanto, reside em:
A natureza do transtorno: A psiquiatria o vê como doença biológica/psicológica com base em sintomas; a antipsiquiatria o entende como sofrimento humano em um contexto social e existencial.
O objetivo do tratamento: A psiquiatria busca curar ou controlar a doença; a antipsiquiatria busca compreender o sofrimento em seu contexto e promover a emancipação do indivíduo.
O papel da medicalização: A psiquiatria a utiliza como ferramenta terapêutica primária; a antipsiquiatria a critica como forma de controle social.
Essa dicotomia molda profundamente as práticas e os debates sobre a saúde mental até os dias de hoje.




