
A cidade pulsa ao seu redor, cheia de luzes, sons e vozes desconhecidas, mas para quem chegou de outro país, tudo parece distante, como se o mundo tivesse continuado a girar sem avisar que você estava chegando. Ao abrir a janela do apartamento alugado, o vento carrega cheiros estranhos, diferentes daquilo que a memória chama de lar. Cada passo pelas ruas novas é acompanhado de um silêncio interno, um eco de saudade que não encontra resposta.
A solidão do imigrante não é apenas estar longe de casa; é sentir a ausência em cada gesto cotidiano. O café da manhã é feito sozinho, as palavras na língua estrangeira tropeçam na boca, e o celular vibra com mensagens que não substituem abraços, risadas, conversas intermináveis. É no jantar sem companhia que o coração percebe a falta dos cheiros e sabores da família, no riso que não se ouve, nas datas comemorativas que passam sem calor humano.
A psicologia nos ensina que essa solidão carrega camadas profundas. Ela é o confronto com a própria subjetividade, com os medos que vinham sendo silenciados pelo conforto da rotina. É se olhar no espelho e reconhecer que parte da identidade ficou em outro país, que os laços afetivos estão distantes, e que é preciso aprender a ser suporte de si mesmo. A psicanálise reforça que a solidão também é espaço de introspecção: é nela que se percebem desejos, frustrações e a força que muitas vezes não se sabia existir.
Mas mesmo na dor, há aprendizado. Cada ligação para casa, cada mensagem de amigos distantes, cada tentativa de se conectar com novas pessoas, se torna um fio que sustenta. Cada pequeno gesto de cuidado consigo mesmo — cozinhar algo que lembra a infância, ouvir uma música que traz lembranças, escrever sobre o que sente — é uma ponte entre o que foi deixado para trás e o que ainda está sendo construído.
Recomeçar em outro país é doloroso, mas também é descobrir-se capaz de se reinventar. A solidão, quando acolhida, revela a força silenciosa que existe em quem enfrenta o desconhecido. Ela ensina paciência, resiliência e a arte de transformar o vazio em espaço fértil para a autonomia e para o autoconhecimento.
E, aos poucos, o imigrante percebe que estar longe de casa não é apenas ausência, mas também possibilidade. Possibilidade de criar novas histórias, novas memórias e novas conexões, mantendo viva a saudade, mas aprendendo a conviver com ela, sem se deixar dominar. No fim, a solidão não é inimiga; é a presença silenciosa que nos ensina a reconhecer a própria coragem, a própria capacidade de adaptação e a própria autenticidade.





