
O medo de ficar sozinha, na perspectiva psicanalítica, não é apenas uma sensação momentânea. Ele é um sintoma que aponta para algo mais profundo: a relação que o sujeito estabeleceu com o cuidado, com o outro e, principalmente, consigo mesma ao longo da vida. A solidão, quando vivida como ameaça, costuma reativar marcas emocionais antigas, experiências que foram registradas muito antes da mulher se dar conta disso.
Na infância, quando o ambiente não ofereceu previsibilidade, afeto estável ou presença emocional, a criança aprende — silenciosamente — que estar só é perigoso. É nesse momento que se forma aquilo que a psicanálise chama de angústia de abandono: uma sensação de desamparo que pode se repetir na vida adulta diante de qualquer distância, silêncio ou vazio. Assim, o medo da solidão se torna menos sobre o presente e mais sobre aquilo que foi vivido no passado.
Para a psicanálise, o vínculo com o outro é também um reflexo do próprio mundo interno. Quando a autoestima está fragilizada, quando a mulher não consegue ser continente das próprias emoções, a presença do outro funciona quase como um “eu auxiliar”, alguém que estabiliza o que ela ainda não consegue sustentar sozinha. Nesses casos, ficar sozinha ativa fantasias inconscientes de não ser amada, de não ser suficiente e de não ter valor.
Relações traumáticas também deixam marcas psíquicas importantes. Traições, rejeições, manipulações emocionais ou vínculos abusivos produzem feridas que podem se repetir como uma espécie de eco interno. A psicanálise nos lembra que aquilo que não é simbolizado se repete. Assim, a solidão, para algumas mulheres, se transforma em um ativador dessas memórias dolorosas, fazendo com que a mente associe “estar só” com “estar vulnerável”.
Outro ponto essencial é a dificuldade de suportar o encontro consigo mesma. Na psicanálise, o silêncio é visto como um espaço onde o inconsciente fala. É no recolhimento que emergem conteúdos reprimidos, emoções não elaboradas, desejos que foram silenciados para sobreviver. Por isso, para muitas mulheres, a solidão não é apenas ausência de companhia, mas a presença intensificada de conteúdos internos que ainda não encontram lugar para serem compreendidos.
Além disso, vivemos em uma sociedade que valoriza a presença constante do outro e associa a felicidade ao relacionamento. Essa pressão externa se soma às demandas internas e reforça ainda mais a ideia de que estar sozinha é sinal de fracasso. Na psicanálise, entendemos que esses discursos sociais atravessam o sujeito e atuam sobre suas escolhas, seus medos e sua forma de se relacionar.
No entanto, o medo de ficar sozinha também pode ser um convite. Um chamado para compreender melhor a si mesma, para reconhecer feridas antigas, para ressignificar experiências que ainda doem. A psicanálise acredita que só é possível transformar aquilo que se nomeia. Quando a mulher começa a elaborar sua relação com a solidão, ela passa a perceber que estar consigo mesma não é abandono, mas possibilidade. Um caminho de construção de autonomia afetiva, de fortalecimento interno e de redescoberta da própria presença.
Aprender a ficar só não significa desejar a solidão, mas reconhecer que a própria companhia pode se tornar um espaço seguro, continente e suficiente. E, a partir desse lugar, os vínculos deixam de ser tentativas de preenchimento e passam a ser escolhas de encontro.





