
O amor é uma das experiências mais intensas da vida. Ele traz consigo encantamento, desejo e esperança, mas também pode nos conduzir a caminhos de dor, especialmente quando atravessamos a rejeição, o luto e a repetição de histórias que parecem não ter fim.
Na psicanálise, essas dores não são vistas como fracassos, mas como parte do enigma de amar. Amar é sempre arriscar-se: entregar algo de si sem a garantia de retorno. Por isso, a rejeição fere tão fundo. Ela desperta em nós antigas marcas de abandono e nos coloca diante da difícil tarefa de suportar que o outro não corresponda ao nosso desejo. O “não” do outro, embora doloroso, pode também ser a chance de olharmos para nossa própria história e compreendermos por que buscamos tanto essa confirmação externa.
O luto amoroso, por sua vez, é o silêncio que fica quando um laço se desfaz. Não é apenas a ausência da pessoa amada, mas a ausência de tudo o que projetamos nela: sonhos, futuros, versões de nós mesmos que pareciam possíveis apenas naquele encontro. Elaborar esse luto é um processo de reinvenção — de recolher os pedaços, ressignificar a dor e, aos poucos, aprender que o amor não se perde, ele se transforma em memória e aprendizado.
Já a repetição é talvez o enigma mais intrigante. Quantas vezes nos vemos amando de novo o mesmo tipo de pessoa, vivendo os mesmos conflitos, caminhando pelas mesmas feridas? Na visão psicanalítica, repetimos porque inconscientemente tentamos resolver aquilo que ficou inacabado no passado. Buscamos, sem perceber, um desfecho diferente para antigas histórias. Mas, ao invés de solução, encontramos o mesmo sofrimento. Reconhecer essa repetição é o primeiro passo para rompê-la e abrir espaço para novas formas de amar.
O amor, portanto, carrega em si tanto a promessa de encontro quanto a possibilidade de dor. Mas é nesse movimento — entre o prazer e a perda, entre a esperança e a desilusão — que crescemos como sujeitos. A psicanálise nos convida a olhar para as dores do amor não como sentenças, mas como revelações de quem somos, do que buscamos e do que ainda precisamos elaborar em nossa própria história.
Porque, no fim, mesmo diante da rejeição, do luto e da repetição, seguimos desejando. E é esse desejo que nos mantém vivos, capazes de recomeçar e de amar novamente.