
O Brasil possui uma população em que 97% acreditam na existência de uma divindade. A religião se faz presente na cultura brasileira, na globalização, no sincretismo religioso e na subjetividade humana, pois ela altera a forma de relacionamento com Deus, com os outros, consigo próprio e com o mundo. A partir das crenças de um indivíduo é possível entender como ele interpreta, agrega sentido e vive as suas experiências, uma vez que ela dá sentido à realidade cotidiana. A religião e a espiritualidade podem gerar sensações ligadas a um preenchimento e sentido de vida: desde uma formulação de conceitos gerais e coletivos sobre a existência humana até questões mais individuais e singulares, como o autoconhecimento. Por esse motivo, falar das suas crenças na psicoterapia é importante para que o psicólogo consiga entender a forma como o paciente enxerga e vive o mundo.
A religião também pode exercer um papel importante na interpretação de experiências dolorosas. Dessa forma, a fé e a religiosidade possuem a capacidade de simbolizar e significar experiências a partir de uma referência cósmica e divina, dando sustentação para o enfrentamento de questões relacionadas ao sofrimento. Assim, a pessoa pode desenvolver repertório simbólico para que o sofrimento não seja evitado, mas seja algo suportado e encarado através do propósito. A comunidade religiosa também ajuda no desenvolvimento de laços sociais e sentimento de pertencimento. Essa sensação de pertencimento, que vincula a identidade social do indivíduo a um grupo de pessoas ou a uma instituição, pode diminuir sentimentos de ansiedade.
Entender se você possui uma relação saudável com a sua religião/espiritualidade é importante para a sua saúde mental. Como qualquer outro tema, as crenças religiosas podem tanto melhorar a saúde mental do indivíduo como serem motivo de sofrimento, a depender da forma como essa pessoa interpreta e vive a sua fé. A forma como os dogmas religiosos são interpretados e aplicados à vida cotidiana influencia a maneira como ela se relaciona com a saúde mental. Ao mesmo tempo que a religião pode ser usada como uma fonte de resiliência, acolhimento e segurança, ela pode ser utilizada para culpabilizar, criar sentimentos de medo e ansiedade no indivíduo, a depender de como é interpretada. Isso ocorre, pois a religião se relaciona intimamente com a instância da moralidade. Ao se identificarem com as normas de conduta de determinada instituição, os indivíduos estabelecem valores aliados a ela e se sentem culpados quando as transgridem.
É importante salientar que não há uma forma errada ou certa de vivenciar as suas crenças religiosas; no entanto, é necessário compreender como elas se relacionam com a sua saúde mental.