
Saber a hora de ir embora nem sempre é simples. Às vezes, é um processo silencioso, que começa dentro da gente muito antes do primeiro passo ser dado. Pode ser o fim de um relacionamento, a saída de um trabalho, ou até o afastamento de vínculos que já não nos acolhem como antes.
Na perspectiva winnicottiana, somos seres formados nas relações, e é por meio delas que nos constituímos. Desde o início da vida, dependemos de um ambiente suficientemente bom: aquele que nos sustenta, acolhe e permite sermos nós mesmos. Mas, com o tempo, para crescermos, esse mesmo ambiente precisa mudar: ele deve nos permitir ir, experimentar, existir fora. Ir embora, então, não é um ato de fuga. É, muitas vezes, um ato de amadurecimento psíquico. É reconhecer que algo em nós já não cabe no mesmo espaço.
Mas atenção: saber a hora de ir embora não significa sair sem dor. Pelo contrário, o luto, o medo e até a culpa costumam aparecer. Winnicott falava sobre a importância de tolerar a ambivalência, ou seja, aceitar que é possível amar e, ainda assim, precisar ir. Que é possível reconhecer o valor do que foi, sem precisar permanecer no mesmo lugar para sempre.
Ir embora, às vezes, é também um gesto de cuidado consigo mesmo. Um modo de preservar a própria espontaneidade, a própria verdade interna, aquilo que Winnicott chamava de “self verdadeiro”.
Quando o ambiente começa a exigir que sejamos algo que não somos, que reprimamos nossa autenticidade ou nosso desejo de viver de forma mais plena, é sinal de que o “ir embora” pode ser um movimento de saúde.
Nem sempre é um rompimento fácil, mas, muitas vezes, é o primeiro passo para se reencontrar.
Ir embora é, no fundo, uma forma de seguir sendo, de continuar existindo de forma verdadeira.





