
Não sei se as outras pessoas sentem isso, mas eu tenho muito medo de ser triste. Não digo como um estado natural e passageiro de uma emoção, digo realmente ser.
Aos que me conhecem sabem que sou uma verborragia ambulante. O que isso significa? Que eu sou basicamente o Burro, do Shrek. Eu não calo a boca.
Acontece que entre piadas e comentários nem sempre dos mais convenientes, há muita melancolia.
Não que eu não aprecie minha face melancólica. Acredito que devo a ela as coisas mais preciosas que me pertencem como identidade, mas também há muito medo dessa melancolia.
Pois é no silêncio que eu sinto olhos que me espreitam. Não é uma criatura feroz, não. É calma, é sagaz e muito paciente. Paciente até demais eu diria.
É como se uma grande fera de pelos negros estivesse escondida nas minhas sombras.
Quando eu me calo e me encontro a sós com meus pensamentos, os olhos dela se abrem e eu vejo sua íris amarela fome me fitando.
Aguardando quando eu desistir de tudo para que qualquer esperança que há em mim, se esvaia.
Nunca dei um nome a essa fera, mas sei que ela convive comigo desde que me entendo por gente. Mas só agora a reconheci. Vi sua forma e a encarei nos olhos.
Por um instante me vi desesperado, precisava me fazer feliz, precisava encontrar algo que me encantasse e me iluminasse um pouco, pois a luz afasta essa besta.
Ela faz parte de mim, percebo isso e talvez ela represente para sempre uma luta que ocorre enquanto eu viver.
Não há felicidade eterna para que se cesse essa guerra, mas existem momentos tão preciosos que me lembram porque eu enfrento cada batalha.





