Ouvimos todo o tempo, pessoas nos dizendo que devemos persistir e/ou insistir em nossos sonhos, aí vem um estranho e diz que isso está errado? Que devemos desistir? Como assim?

Eu acredito muito no poder da persistência, acho que devemos perseguir nossos sonhos diariamente com muita garra e determinação, acho esse discurso que diz: "nunca desista dos seus sonhos" muito legal e não nego que sou diariamente motivada por esse tipo de conteúdo, meu feed nas redes sociais estão repletos de frases e vídeos desse tipo, minhas conexões virtuais, muitas delas são desse nicho motivador ou similar. Mas se isso tudo é tão importante para mim, então por que eu estou aqui dizendo que devemos desistir? Como já disse lá no começo, acho isso tudo muito bonito na teoria e o que seria de nós sem os pensamentos positivos? Nada!

Confesso que considero o otimismo um desafio para a humanidade, mas ainda assim não me considero pessimista, acho essa palavra muito forte, então prefiro dizer que sou realista e sinceramente, as vezes acho essa conversa do "não desista" um pouco tóxica. Enfim, na teoria essa persistência parece funcionar muito bem, mas ela pode ser facilmente confundida com insistência. Por mais que sejam dois termo similares, possuem significados diferentes e isso pode gerar uma confusão em nossa mente.

De acordo com o dicionário, persistir significa buscar um objetivo com determinação e garra, usando sempre de criatividade, inovação e buscando novos caminhos a fim de alcançar aquilo que desejamos. Já insistir, também está ligado a buscar algo que queremos muito com afinco, mas sem inovação, trilhando sempre o mesmo caminho, o que pode nos levar a ficar andando em círculos e nunca encontrar um resultado satisfatório. Por isso, é preciso ter cuidado ao incorporar isso em nosso dia a dia, pois, podemos causar grande sofrimento a nós mesmo, visto que nem tudo que é motivador e bonito de se ler, cabe em nossa realidade e nem tudo que dá certo na vida de outra pessoa, se adequa a nossa vida e nos dá resultado. Isso acontece, porque somos seres subjetivos, ou seja, somos únicos, temos nossas particularidades que nos torna diferentes uns dos outros e isso é ótimo, pois essa característica nos proporciona a possibilidade de encontrar novas coisas a todo momento, testar nossa criatividade e criar possibilidades.

Para dar ainda mais corpo a nossa reflexão, preciso entrar rapidamente em um outro assunto, limites. Quando ouvimos algo do tipo: Você não pode desistir ou você tem que ser forte, acreditamos e nos motivamos, mas você está levando em consideração os seus limites? Você sabe quais são eles? Para que você possa analisar com mais precisão, o limite é o ponto onde você consegue chegar sem renunciar à sua integridade física e emocional, ou seja, até que ponto você deve insistir em algo e isso não te prejudicará emocionalmente ou fisicamente? Após fazer essa análise, faça um balanço do que você está buscando. Está sendo saudável? Ou você está se desdobrando, se doando mais do que deveria e está se sentindo desconfortável nessa situação? Cabe a cada um de nós buscar autoconhecimento para que sejamos capazes de avaliar se estamos persistindo em algo ou se estamos insistindo demais em coisas que não merecem nossa energia.

Em minha prática clínica e em minha vida social, tenho me deparando com muita frequência com pessoas que estão demandando grande energia em relacionamentos fracassados, empregos excessivamente estressantes, em coisas que a muito tempo não fazem mais sentido e sofrendo com isso. Essas pessoas estão insistindo em coisas que talvez não tenha mais conserto. Você já ouviu aquele ditado que diz: “Está dando murro em ponta de faca”? Nesses casos é preciso parar, descansar e refletir se ainda vale a pena demandar energia para essas coisas. Entender o nível de responsabilidade que temos nessas situações e descobrir se ainda é possível agir para resgatar isso ou se o mais saudável a se fazer é desistir e quando falo em desistir, não estou dizendo que se deve desistir da vida como um todo, mas sim, desistir apenas dessa coisa que você tem lutado com tanta dedicação, mas que só tem trazido dor e sofrimento. Após fazer um balanço minucioso, é hora de decidir se ainda é possível fazer algo ou se é hora de abandonar e recalcular a rota.

Sabemos o quanto é frustrante abandonar algo que nos dedicamos e cultivamos com tanto carinho, mas é preciso acreditar que há novos caminhos para serem trilhados e dar esse passo requer coragem, mas também é necessário entender que a vida é movida por ciclos que se encerram e se iniciam constantemente e está tudo bem. Por isso, permita-se recomeçar sempre que necessário.

E você, no quem tem insistido? Está preparado para abandonar e recomeçar?

Psicóloga Miriã Rosseto Muniz - CRP 08/29915

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