
Encerrar um relacionamento já é, por si só, viver um luto. Mas quando esse vínculo se deu com alguém de estrutura narcísica, o rompimento traz uma dor peculiar: não se perde apenas o outro, perde-se também a ilusão de um amor que nunca existiu como parecia.
Na psicanálise, compreendemos que o narcisista se relaciona a partir de um espelho. Ele busca no outro não a alteridade, mas um reflexo que alimente sua própria imagem. Estar com alguém assim é, muitas vezes, sentir-se apagado, usado como tela onde o outro projeta suas idealizações e, mais tarde, suas frustrações. Nesse jogo, o sujeito que ama é esvaziado de si, confundido, deslocado do próprio desejo.
Quando o término chega, há uma sensação de vazio profundo. A pessoa pode se perguntar: “Quem eu era antes disso? O que em mim ainda existe?”. É como se a identidade tivesse sido sequestrada. No entanto, é justamente aí que começa a possibilidade de reconstrução.
O rompimento com um narcisista exige atravessar a dor de perceber que não se foi amado pelo que se é, mas pelo papel que se desempenhou no imaginário do outro. É duro, mas é também libertador: ao reconhecer essa falta, abre-se espaço para reencontrar a própria voz, os próprios contornos, a própria história.
A psicanálise nos ensina que todo fim carrega também uma oportunidade de elaboração. Elaborar não é esquecer, mas dar um lugar à experiência vivida. É costurar sentido, é transformar ferida em cicatriz que, com o tempo, deixa de doer para se tornar marca de sobrevivência.
Terminar com um narcisista é deixar para trás um amor que nunca pôde ser recíproco. É um ato de coragem e de vida. É escolher-se. E, nesse caminho, a possibilidade mais preciosa surge: reencontrar-se consigo mesmo, finalmente livre do espelho alheio, pronto para olhar o mundo com olhos próprios.