Amar um narcisista é como entrar em um labirinto cheio de espelhos: em cada canto, a imagem que se reflete é a dele, e raramente a sua. No início, há brilho, intensidade e sedução. O narcisista costuma saber envolver com palavras, gestos e uma aura quase mágica de segurança. É como se, ao lado dele, o mundo ganhasse um tom mais vibrante.

Mas, com o tempo, esse encantamento revela sua face mais difícil. A relação deixa de ser um encontro entre dois sujeitos e passa a girar em torno de uma necessidade: a de alimentar o ego do outro. O amor, então, perde o espaço da reciprocidade e se transforma em uma espécie de palco, onde apenas um ocupa o centro das atenções.

Na perspectiva psicanalítica, o narcisista busca no outro um espelho para sustentar sua frágil autoestima. Ele precisa ser admirado, reconhecido e valorizado para manter sua sensação de existência. Isso faz com que o parceiro(a) se veja, muitas vezes, em uma dança desigual: oferecendo cuidado, validando e cedendo, enquanto recebe pouco ou nada em troca.

Essa dinâmica cria uma montanha-russa emocional. Há momentos de proximidade e afeto, seguidos por distanciamento, frieza ou críticas. Quem ama um narcisista pode viver constantemente em busca daquele “início mágico”, tentando resgatar o brilho que parecia existir no começo. E, nesse processo, acaba se afastando de si mesmo, abrindo mão de desejos, limites e até de sua identidade.

Amar um narcisista, portanto, não é apenas uma experiência de paixão intensa, mas também de esgotamento. É um convite silencioso a se perguntar: até que ponto estou disposto(a) a me perder para sustentar o outro?

A psicoterapia pode ajudar a compreender esse ciclo, fortalecer os limites e resgatar a própria voz, lembrando que um amor saudável não deveria anular, mas sim permitir que ambos cresçam e existam em sua plenitude.