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CRAVING: Que Fome é Essa?

Entendendo o Desejo Compulsivo e Como Superá-lo

2 de jul. de 2025

Francisco de Assis Beserra de Chantal Junior

Psicoeducação
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Abertura Humanizada: Quando a Vontade Vira Prisão

Se você ou alguém que você ama sente um desejo incontrolável por uma substância, comida ou comportamento, como se fosse uma fome na alma, não está sozinho. Essa experiência tem nome:craving. Mais do que uma “vontade forte”, é um impulso avassalador que sequestra corpo, mente e decisões.

Este artigo é um convite ao entendimento — sem julgamentos — com base científica e vivência clínica. Vamos explorar o querealmenteestá por trás do craving e como quebrar o ciclo com estratégia, compaixão e direção.

O Que É Craving? Uma Fome que Não é de Comida

Craving é o desejo compulsivo que nasce da expectativa de alívio, prazer ou anestesia emocional. É o cérebro gritando por algo que já foi registrado como “solução rápida” — mesmo que tenha consequências negativas.

🎯 Em termos neurobiológicos:

Envolve o sistema dopaminérgico de recompensa (núcleo accumbens, amígdala e córtex pré-frontal).

Funciona como umamemória emocional registrada a fogo: o cérebro “lembra” que aquilo já trouxe alívio.

É reforçado porgatilhos, contextos e estados emocionais.

👁️ Em termos subjetivos:

É a repetição de um roteiro interno:“só mais uma vez”

Serve como resposta aovazio, estresse, tédio, culpa ou desconexão emocional

Mitos & Verdades

Conceitos:

“Falta de força de vontade” → Mito;

“É coisa de gente fraca” → Mito;

“Vai durar para sempre” → Mito;

"É uma alteração nos circuitos de controle inibitório" → Verdade;

“É uma condição tratável com apoio clínico e estratégias estruturadas” → Verdade;

“Com neuroeducação, técnicas de enfrentamento e suporte, o craving pode ser neutralizado” → Verdade.

Como Reconhecer um Craving em Ação

🔥 Sinais Físicos:

Agitação, sudorese, boca seca, tremores

Aceleração cardíaca, tensão muscular

🧠 Sinais Cognitivos:

Pensamentos obsessivos como “só mais hoje”

Sensação de urgência, dificuldade de foco

Racionalizações: “eu mereço”, “não é tão grave”, “já tô ferrado mesmo”

📉 Comportamentos:

Mudanças bruscas de rotina e humor

Isolamento social

Negligência de compromissos ou autocuidado

Insight clínico: O craving não começa na fissura — começa na antecipação silenciosa. Muitas vezes, o comportamento compulsivo já foi decidido horas antes do impulso aparecer.

Estratégias Práticas de Enfrentamento (Baseadas em Evidência)

🧩 Técnicas de Primeira Linha:

Respiração 4-4-6: → Reduz ativação do sistema nervoso simpático

Técnica dos 5 sentidos (Grounding)→ Interrompe o looping mental e ancora no presente

Relaxamento muscular progressivo (Jacobson) →Ideal para quem somatiza tensão nos ombros, mãos ou maxilar

Visualização de Futuro →“Como você quer se sentir amanhã de manhã?”

Autoverbalização→ “Eu estou sentindo, mas isso não me define. Eu não sou o impulso.”

🎯 Estratégias de Longo Prazo:

Rotina com propósito: Craving adora lacunas. Preencher o dia é mais eficaz que resistir à noite.

Exercícios físicos regulares: liberam dopamina de forma natural

Mindfulness estruturado: 10 minutos por dia já reduzem reatividade

Diário de gatilhos e vitórias: auto-observação é prevenção

Reestruturação cognitiva (TCC): reformular pensamentos permissivos e automáticos

Planejamento de Prevenção: O Plano Anti-Craving

Mapa de gatilhos: anote lugares, pessoas, horários, emoções

Plano B para recaídas: o que fazerantesdo impulso dominar

Rede de apoio personalizada: quem pode ser acionado (e quem não deve ser)

Ambientes seguros: fuja da zona de risco sem culpa — isso é maturidade, não fraqueza

Ferramentas Digitais que Valem Ouro

Apps de meditação: Headspace, Lojong, Insight Timer

Mood tracking: Daylio, Bearable

Apps de bloqueio de impulsos (vídeos, comida, redes): Forest, Freedom


Histórias de Superação (Reais e Comuns)

Maria, 35 anos:Lutava contra o álcool havia 10 anos. Começou a mapear seus gatilhos emocionais com ajuda de uma psicóloga e passou a usar a técnica de visualização nos momentos de tensão. Hoje, está sóbria há 14 meses e é voluntária em grupos de apoio.

João, 22 anos: Após várias internações, João entendeu que precisava parar de resistir sozinho. Combinou treino funcional com terapia cognitiva e finalmente conseguiu uma rotina estável. “O craving perdeu força quando minha vida começou a fazer sentido”, diz.

Para Familiares: Como Ajudar Sem Sabotar

💡 3 Princípios de Apoio Real:

Empatia sem Piedade: “Eu confio em você. Vamos juntos.”

Presença sem Controle: “Você não está só, mas as escolhas ainda são suas.”

Cuidado sem Código Moral: Abandone frases como “você prometeu” e “isso é de propósito”.

📣 Comunicação Assertiva:

Ouça para entender, não para corrigir

Use perguntas abertas: “O que você está precisando hoje?”

Não discuta durante crises — isso é hora deacalmar, não de convencer

Quando Procurar Ajuda Profissional

Sinais de que já passou do limite:

Craving recorrente mesmo após tentativas de controle

Impacto funcional: trabalho, estudo, vínculos afetivos

Recaídas frequentes, aumento de tolerância, ou substituições de comportamento (ex: troca de álcool por sexo compulsivo)

📌 Psicoterapia baseada em evidências + suporte psiquiátrico (quando necessário) + mudança de estilo de vida = Tríade de sustentação

Fechamento Visionário

Craving não é sentença. É um sintoma — e todo sintoma é uma mensagem. Quando escutado com profundidade, pode ser a chave da transformação. Você não está lutando contra uma substância ou hábito — está lutando para se reconectar consigo mesmo.

O tratamento não é só parar. Éconstruir uma nova versão suaque não precise mais fugir.

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