
Sentir que não gosta de si mesmo não é apenas um pensamento que surge do nada. É uma consequência das primeiras relações, dos primeiros olhares e das primeiras faltas. Na psicanálise, compreendemos que a capacidade de se amar não nasce pronta. Ela é construída, sustentada e confirmada pelo afeto do outro.
Quando alguém cresce em ambientes marcados por críticas constantes, expectativas inalcançáveis ou falta de validação emocional, forma-se aquilo que chamamos de ferida narcísica. É uma marca silenciosa, mas profunda, que altera a forma como a pessoa aprende a se ver. O resultado, na vida adulta, pode aparecer como dificuldade de acolher a própria imagem, de reconhecer valor e de se olhar com gentileza.
Na música I Don’t Like Myself, Dan Reynolds expressa esse conflito interno. O eu que se critica, que se envergonha, que se sente insuficiente não é um eu real, mas um eu moldado por experiências emocionais que não foram cuidadas. A letra expõe a dor de quem tenta se encontrar, mas carrega dentro de si um espelho rachado pelo passado.
A psicanálise entende esse movimento como uma luta entre o desejo de ser amado e a crença, construída lá atrás, de que não se é digno desse amor. E é justamente aí que o processo terapêutico se torna caminho. Um espaço onde o sujeito pode reconstruir o próprio olhar, ressignificar antigas feridas e, pouco a pouco, começar a se habitar sem culpa.
Porque aprender a gostar de si não é vaidade. É cura. E, às vezes, tudo começa quando alguém finalmente escuta essa dor e não a julga.





