
A infância é o período em que o sujeito começa a construir sua relação com o mundo. É ali, nos primeiros vínculos, que ele aprende o que é amor, cuidado, presença e segurança. Quando esses vínculos são frágeis, ausentes ou marcados pela negligência emocional, o que se forma não é apenas uma lembrança triste — mas uma ferida psíquica que tende a acompanhar o indivíduo na vida adulta.
Na psicanálise, entende-se que a criança não precisa apenas de alimento e abrigo. Ela precisa, acima de tudo, de um olhar que a reconheça, de uma escuta que a legitime e de um afeto que a faça sentir que existe para alguém. Quando isso não acontece, nasce um vazio. Um vazio que mais tarde pode se transformar em angústia, insegurança, medo de rejeição e dificuldade em se sentir merecedor de amor.
O sujeito que viveu negligência emocional pode se tornar um adulto que busca constantemente aprovação. Teme ser abandonado, sente-se pequeno diante dos outros e, muitas vezes, repete relações em que o amor é sempre difícil. É como se uma parte da infância continuasse esperando aquele olhar que nunca veio.
Freud já dizia que o inconsciente é atemporal — ele guarda, silenciosamente, as marcas do passado. Aquilo que não foi simbolizado na infância tende a reaparecer na vida adulta, através de sintomas, ansiedades ou repetições. A psicanálise busca justamente dar palavra ao que ficou preso no silêncio da infância.
Em análise, o sujeito começa a nomear suas dores, a reconhecer a criança que foi e a se responsabilizar pelo adulto que é. A partir dessa escuta, algo se reorganiza. A ferida não é apagada, mas deixa de comandar. É quando o sujeito passa a se olhar com mais compaixão, a entender que não foi falta de merecimento — foi falta de cuidado.
As marcas da negligência não precisam definir a vida de ninguém. Através do processo analítico, é possível reconstruir o próprio lugar de amor e pertencimento. A cura vem quando o sujeito





