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Quando o Amor Parece Completar Tudo

Por que nos apaixonamos como se tivéssemos encontrado “a outra metade”?

8 de dez. de 2025

Geovanna Moreira Bastos

Psicoterapia
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O início de uma paixão costuma parecer mágico. É como se o outro chegasse trazendo uma sensação de completude difícil de explicar. Muitas vezes, nesse primeiro momento, idealizamos a pessoa como alguém perfeito, quase sem defeitos. Essa ilusão de perfeição não surge do nada: ela toca em sentimentos muito antigos, ligados às primeiras experiências de cuidado que tivemos na vida.

 

Quando somos bebês, vivemos momentos de intensa proximidade com quem nos cuida, geralmente a mãe. Esse cuidado exclusivo — ser alimentado, protegido, amado — cria uma sensação profunda de segurança e plenitude. Na idade adulta, a paixão pode reativar algo parecido: um desejo inconsciente de reencontrar aquela experiência de ser totalmente visto e amado sem condições.

 

Por isso, ao nos apaixonarmos, muitas vezes imaginamos que o outro pode nos completar. Projetamos nele aquilo que gostaríamos de ser ou de ter. Elevamos suas qualidades, ignoramos certos limites e nos aproximamos como se fosse possível formar um só. A fantasia de fusão — de dois virarem um — surge do desejo de recuperar uma sensação antiga de perfeição perdida ao longo do crescimento.

 

Com o tempo, porém, aprendemos que ninguém nos ama de forma totalmente incondicional. Mesmo assim, seguimos buscando no amor algo dessa antiga admiração. Quando idealizamos alguém, estamos tentando reviver um momento em que sentíamos que éramos tudo para o outro. E, ao colocar o parceiro nesse pedestal, esperamos que esse olhar amoroso devolva a nós mesmos um sentimento de valor e importância.

 

A paixão, então, se torna um espaço intenso, mas também frágil. O apaixonado tende a viver quase inteiramente no outro, como se apenas a presença da pessoa amada o mantivesse “aceso”. Assim, sua autoestima oscila de acordo com a atenção, o carinho e o interesse do parceiro. É por isso que a paixão pode ser tão encantadora e, ao mesmo tempo, tão angustiante.

Essa idealização cria uma espécie de ilusão: a de que finalmente reencontramos algo perdido lá atrás. Projetamos no outro nossas fantasias, nossos sonhos, nossas carências mais profundas. Muitas vezes, aquilo que dizemos amar não é somente a pessoa real, mas também a imagem que construímos dela — uma imagem moldada pelas nossas necessidades mais íntimas.

 

Com o tempo, conforme conhecemos o outro de verdade, a idealização inevitavelmente diminui. Surge então a oportunidade de amar não a fantasia, mas a pessoa real, com limites e imperfeições. Esse é o desafio que transforma a paixão em relação: aceitar que não existe completude, que ninguém pode preencher todas as nossas faltas, e que o amor maduro nasce justamente quando reconhecemos isso.

 

Por fim, o amor não precisa mais ser uma busca pela metade perdida, mas um encontro entre duas pessoas inteiras, cada uma com sua história, seus medos e seus desejos. Quando deixamos de exigir do outro que nos complete, abrimos espaço para um vínculo mais real, mais profundo e muito mais humano.

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