
Na sociedade contemporânea, a imagem ganhou um lugar central, muitas vezes se confundindo com a própria identidade. Entre filtros digitais e ideais inalcançáveis de perfeição, cria-se um imperativo: parecer impecável para ser reconhecido e aceito. O corpo, nesse contexto, deixa de ser apenas um espaço de experiência e prazer para se tornar vitrine, palco de exigências externas e de um olhar que constantemente julga e compara.
O fenômeno vai muito além da superfície: a obsessão pelo corpo ideal e pela imagem perfeita é expressão de conflitos internos, de uma tentativa de controle sobre o próprio corpo e sobre o olhar do outro. O que está em jogo não é apenas estética, mas desejos inconscientes, medos, angústias e a tentativa de lidar com sentimentos de inadequação, rejeição ou vazio. A imagem que se projeta muitas vezes funciona como um escudo, escondendo fragilidades emocionais e dificultando o encontro com a própria subjetividade.
Além disso, esse contexto evidencia a dificuldade de diferenciar cuidado de excesso. O que poderia ser atenção legítima ao corpo frequentemente se transforma em compulsão e autojulgamento severo. Na tentativa de corresponder a ideais externos, a pessoa perde contato com suas reais necessidades internas e com o prazer de habitar o próprio corpo de forma genuína.
Investigar o que os sintomas, as compulsões e a busca silenciosa pela perfeição revelam sobre a vida psíquica. Reconhecer essa diferença entre imagem e identidade, entre exigências externas e desejos internos, é fundamental para construir uma relação mais autêntica consigo mesmo, acolhendo fragilidades, limites e singularidades. Em um mundo de filtros e padrões inalcançáveis, aprender a se escutar e a se aceitar é um ato de coragem e libertação.




