
O abuso psicológico é uma violência silenciosa. Ele não aparece em hematomas ou gritos, mas nas sutis deformações da alma. É o tipo de dor que se instala devagar, até que a pessoa já não reconhece mais quem é.
Por trás de frases que diminuem, olhares que controlam e gestos que manipulam, existe um processo de dominação afetiva. A vítima passa a duvidar da própria percepção, do que sente, do que deseja. É como se o outro se tornasse um espelho distorcido — aquele que define o que é certo, o que é errado, o que pode e o que não pode ser sentido.
Na escuta psicanalítica, o abuso psicológico revela-se nas entrelinhas: na culpa excessiva, no medo constante de errar, na dificuldade de se reconhecer como alguém que tem valor. São vozes internas que repetem antigas humilhações, transformadas em verdades sobre si.
A análise busca devolver ao sujeito aquilo que foi tomado dele — a possibilidade de se escutar, de desejar, de ser. Quando a pessoa encontra um espaço onde pode falar sem medo, começa a perceber que as palavras que antes feriam não pertencem mais a ela. Aos poucos, o silêncio imposto se rompe, e surge um novo modo de existir.
O abuso psicológico, no fundo, é uma tentativa de calar a singularidade do outro. E o caminho da cura é justamente o oposto: é permitir que a própria voz volte a ser ouvida, que o eu reencontre sua força e se autorize, novamente, a viver por inteiro.





