
Durante a infância, o indivíduo começa a construir a noção daquilo que é certo, daquilo que é errado e, principalmente, os seus referenciais. Ao viver em uma sociedade racista, ser branco se torna o referencial de sujeito. É ensinado, pela cultura, pela mídia, pela sociedade e pelas instituições, que a única forma de ser é a forma branca, e os sujeitos que não fazem parte dessa branquitude representam algo negativo.
Um estudo sobre raça feito com crianças demonstrou que tanto crianças negras quanto crianças brancas tendem a escolher brincar com bonecas brancas. Ao falarem sobre a sua escolha, algumas crianças justificaram dizendo que as bonecas negras são “feias”, “maldosas” ou “ruins de brincar”. A escolha pela boneca branca é um sintoma da sociedade racista. As bonecas são um símbolo de cuidado e afeto, uma vez que as crianças brincam de cuidar delas. Ao escolher um objeto que faz referência à branquitude para cuidar e brincar, surge o discurso de que o afeto deve ser direcionado apenas a pessoas brancas.
E como isso impacta a saúde mental de pessoas negras? Mesmo quando há consciência crítica sobre o racismo e posicionamento contra ele, sintomas inconscientes podem surgir. É comum que sujeitos negros, apesar dessa consciência, apresentem baixa autoestima, dificuldade em expressar ou receber afeto ou uma postura excessivamente autoexigente. Esses sintomas têm origem em um referencial branco introjetado no inconsciente, que estabelece como ideal de sujeito a branquitude. Assim, ao se olhar no espelho e ver uma pessoa negra, surgem mecanismos de defesa inconscientes que buscam negar a própria identidade, numa tentativa frustrada de aproximação do ideal branco. O resultado é um sofrimento psíquico profundo. Como afirma a psicóloga Neusa Santos: “Para afirmar-se ou para se negar, o negro toma o branco como marco referencial [...] Tentar sempre ser o melhor, para minimizar, compensar o ‘defeito’ da sua cor, para ser aceito [...] É que o ideal do negro, que é em grande parte constituído pelos ideais dominantes, é branco. Ser branco lhe é impossível.”
E agora, como posso cuidar da minha saúde mental? A psicoterapia, com ênfase na psicanálise, oferece um espaço de acolhimento para o discurso inconsciente. Ela busca compreender a origem de sintomas que parecem inexplicáveis e, por meio da fala, possibilita que o sujeito transforme a forma como se posiciona diante de si e do mundo. Quem não se escuta nem analisa o próprio inconsciente acaba reproduzindo o discurso imposto pelos outros — inclusive pela sociedade racista. Como lembra Neusa Santos: “Uma das formas de exercer autonomia é possuir um discurso sobre si mesmo.”
Geovanna Moreira Bastos - CRP 01/30116
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