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Compulsão sexual: quando o prazer se torna prisão

Entre o desejo e o vazio: compreendendo a repetição e o sofrimento por trás da busca incessante por prazer

11 de nov. de 2025

Geovanna Moreira Bastos

Autoconhecimento
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A compulsão sexual, também chamada de transtorno do comportamento sexual compulsivo, é uma condição que atinge aproximadamente 5% da população. Trata-se de uma dificuldade em controlar impulsos e comportamentos sexuais, mesmo quando esses causam sofrimento, prejuízos emocionais ou danos nas relações pessoais, profissionais e familiares. Em geral, a pessoa sente um desejo intenso e repetitivo por atividades sexuais, gastando muito tempo com fantasias, pornografia ou encontros, a ponto de negligenciar outras áreas da vida.

 

Falar sobre o tema ainda é um grande desafio, tanto para quem vive esse sofrimento quanto para profissionais da saúde. A vergonha, o medo do julgamento moral e a confusão entre o que é “desejo” e o que é “compulsão” fazem com que muitas pessoas demorem a buscar ajuda. Em uma sociedade que ao mesmo tempo exalta a sexualidade e a condena moralmente, o sujeito compulsivo se vê preso em um ciclo de culpa, segredo e solidão. Por isso, a escuta clínica precisa ir além dos rótulos e oferecer um espaço livre de julgamento, onde o sofrimento possa ser nomeado.

 

Do ponto de vista médico, o transtorno envolve uma falha no controle dos impulsos. O indivíduo tenta reduzir suas fantasias e comportamentos, mas não consegue, repetindo-os mesmo diante de consequências negativas. Pode se envolver em sexo virtual, masturbação excessiva, consumo abusivo de pornografia ou relacionamentos múltiplos e rápidos. Curiosamente, nem sempre há prazer: o que se repete é mais uma sensação de alívio momentâneo do que uma verdadeira satisfação. Alguns indivíduos relatam sensação de obrigação ao ter que se engajar em atividades sexuais e até se expor em situações de risco e vulnerabilidade por esse motivo.

 

As causas da compulsão sexual são múltiplas. Pesquisas indicam que fatores biológicos — como alterações hormonais e cerebrais — podem estar envolvidos. Substâncias que estimulam o sistema de prazer, como a dopamina, também têm papel importante. No entanto, há uma dimensão psíquica profunda que vai além do corpo e da química: muitos desses sujeitos carregam histórias de repressão, abuso, negligência ou experiências precoces de culpa em relação ao prazer. A sexualidade, nesses casos, pode se tornar uma forma de lidar com o vazio, com a angústia ou com a falta de afeto.

 

Na visão da psicanálise, a compulsão sexual não é apenas um problema de controle, mas uma forma de expressão do inconsciente. Freud foi um dos primeiros a reconhecer que a sexualidade humana não se limita à reprodução ou ao prazer genital. Desde a infância, o desejo é atravessado por experiências, proibições e fantasias que moldam o modo como cada um busca satisfação. Quando algo nesse percurso fica fixado — por exemplo, uma experiência de prazer misturada à culpa ou à dor —, o sujeito pode ficar aprisionado em uma repetição inconsciente que tenta, sem sucesso, reviver ou reparar o que se perdeu.

 

Essa repetição, chamada “compulsão à repetição”, é uma tentativa inconsciente de dominar algo que causou sofrimento. Na compulsão sexual, o ato sexual pode funcionar como uma descarga de tensão ou como uma busca por controle sobre o próprio desejo. Porém, quanto mais o sujeito tenta satisfazer-se, mais vazio se sente. É a busca pela satisfação, uma satisfação que ultrapassa o prazer e beira o sofrimento. O prazer, nesse sentido, não liberta — aprisiona.

 

Em muitos casos, o comportamento sexual compulsivo surge como uma tentativa de lidar com sentimentos de angústia, solidão, ansiedade ou desamparo. O ato sexual se torna um meio de fugir do mal-estar, mas logo o ciclo recomeça. Por isso, é importante compreender que o tratamento não se resume a “controlar” o impulso, mas a compreender o que o sustenta. A psicanálise propõe escutar o sintoma como uma mensagem: o que esse comportamento tenta dizer? Que falta ele tenta preencher?

 

No processo analítico, o objetivo não é eliminar o desejo, mas permitir que ele encontre novas formas de expressão, menos destrutivas e mais integradas à vida. À medida que o sujeito passa a se escutar e reconhecer o sentido de suas repetições, pode construir uma relação mais livre com o próprio corpo e com o prazer. O que antes era vivido como culpa ou vício passa a ser entendido como parte de uma história que precisa ser simbolizada, e não combatida à força.

 

Falar sobre compulsão sexual é, portanto, falar sobre sofrimento humano, sobre o conflito entre o desejo e o limite, o prazer e a culpa. Em vez de moralizar ou patologizar, é preciso acolher. A psicanálise oferece um espaço onde a palavra substitui o ato, e o sintoma pode, enfim, ser escutado. Porque, no fundo, o que cada sujeito busca — ainda que de forma distorcida — não é o excesso, mas um modo possível de amar e de ser amado.

 

 

 

Geovanna Moreira Bastos | Psicóloga e psicanalista - CRP 01/30116

Meu perfil no Terappia: www.terappia.com.br/psi/Geovanna-Moreira-Bastos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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