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Violência e Esquecimento

"O esquecimento dos abusos é, na verdade, uma estratégia inconsciente de sobrevivência emocional."

24 de out. de 2024

Kaoane Wiezorkoski

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O fenômeno pelo qual vítimas de violência se esquecem ou minimizam os abusos sofridos está relacionado a vários processos psicológicos, como por exemplo, os mecanismos de defesa psíquica, onde o cérebro busca se proteger de dores emocionais intensas; A repressão, cujo inconsciente "esconde" as lembranças dolorosas para evitar que elas venham à tona e causem sofrimento; A dissociação, em que a vítima pode se encontrar "desconectada" de certos episódios traumáticos, como se eles não tivessem ocorrido com ela, o que gera lacunas de memória ou sensação de irrealidade.

Todos esses mecanismos são inconscientes e servem para preservar a saúde psíquica da pessoa.


Com relação ás influencias externas, existem alguns ciclos, que contribuem no deslocamento do sofrimento e inclinação ao esquecimento, são elas:


  • O ciclo de reforço e esperança: ciclo da violência, conhecido também como a fase da “lua de mel”, onde após um episódio de abuso, o agressor pode pedir desculpas, ser carinhoso com a vítima ou prometer mudanças, alimentando nela esperança de melhora.

    Esse momento cria na vítima uma sensação de alívio e esperança, fazendo com que ela minimize ou esqueça do episódio violento, buscando manter viva a expectativa de mudança do agressor.


  • Tendência à idealização: A vítima pode idealizar momentos bons e suprimir as lembranças ruins, como forma de justificar a continuidade do relacionamento.


  • Dependência Emocional e Apego Inseguro: Pessoas emocionalmente dependentes têm maior dificuldade em romper com relações abusivas, pois sentem que precisam do outro para se sentirem completas. Esse apego gera uma espécie de "amnésia seletiva", onde os episódios negativos são apagados em prol da continuidade do vínculo.


  • Teoria do Apego: Parcerias abusivas muitas vezes replicam padrões de vínculo da infância, como relações com figuras de apego negligentes ou inconsistentes. A pessoa pode ter aprendido a normalizar o sofrimento como parte de um relacionamento amoroso.


  • Viés Cognitivo e Autopreservação: O cérebro humano tende a criar viéses cognitivos, como forma de preservar a autoestima e justificar escolhas. No caso de uma relação abusiva, pois a vítima pode "reinterpretar os abusos" como momentos isolados, sem importância. Ela pode também "racionalizar" a situação, dizendo para si mesma que "não foi tão grave" ou que "ele(a) não teve intenção de machucar".

    Essas interpretações ajudam a reduzir o conflito interno entre a dor vivida e o amor que sente pelo parceiro.


  • Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT): Em casos mais graves, a violência pode levar ao desenvolvimento de TEPT, no qual a vítima pode ter dificuldade em acessar memórias específicas relacionadas ao trauma. Isso acontece porque a mente tenta evitar o sofrimento que a lembrança traz.

O esquecimento dos abusos é, na verdade, uma estratégia inconsciente de sobrevivência emocional. Mecanismos de defesa, esperança de mudança, padrões de apego e distorções cognitivas se combinam para manter a vítima na relação, muitas vezes impedindo-a de enxergar a gravidade da situação.


A conscientização e a terapia são essenciais para romper esse ciclo, ajudando a vítima a recuperar as memórias e ressignificá-las, restaurando sua autonomia emocional.


Deixo aqui, o meu convite para fazer terapia.

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