
Nos últimos anos, os bebês reborn — bonecos hiper-realistas que imitam bebês humanos — se tornaram populares no Brasil. Muito além de um hobby artístico, eles despertam o interesse de profissionais da psicologia por representarem, para muitas pessoas, objetos de vínculo afetivo, cuidado e, em alguns casos, reconstrução emocional.
Significados simbólicos e funções emocionais
Embora algumas pessoas vejam os reborns apenas como peças de coleção, outros usuários os utilizam como ferramentas emocionais, muitas vezes de forma inconsciente. O fenômeno tem sido associado a vivências subjetivas comosolidão, infertilidade, dificuldades emocionais com a maternidade— e, em certos casos,processos de luto, especialmente após perdas gestacionais ou neonatais.
Estudos como o de Jessica Dillon (2018) apontam que, para algumas mulheres enlutadas, os reborns oferecem uma forma simbólica de continuar o vínculo interrompido com o bebê perdido. A psicologia do luto reconhece que, quando a perda não pode ser ritualizada socialmente — como no caso de abortos espontâneos ou mortes perinatais —, objetos simbólicos podem atuar como mediadores importantes na elaboração da dor.
Contudo, é essencial não generalizar: a motivação por trás da relação com um bebê reborn varia muito e nem sempre está relacionada a perdas ou traumas.
O reborn como objeto transicional
Segundo o pediatra e psicanalistaDonald Winnicott, o “objeto transicional” é aquele que oferece segurança emocional em momentos de separação ou ausência. Embora o conceito tenha surgido para explicar a infância, sua aplicação clínica em adultos tem sido estudada em contextos terapêuticos. O bebê reborn, nesse sentido, pode funcionar como um apoio emocional, ajudando a lidar com inseguranças, memórias afetivas ou perdas simbólicas.
Estigmas, preconceito e vieses de gênero
Apesar do potencial simbólico e terapêutico dos bebês reborn, as mulheres que os utilizam frequentemente enfrentam críticas, chacotas ou mesmo diagnósticos apressados. Enquanto o fenômeno é tratado com desconfiança e até escárnio, comportamentos semelhantes entre homens são amplamente naturalizados — ou mesmo valorizados.
Por exemplo: colecionadores adultos deaction figures, fãs que investem grandes somas emitens de futebol, homens que mantêm relações afetivas comcarros, videogames ou universos de ficção comoStar Wars,MarvelouSenhor dos Anéisraramente são alvo do mesmo julgamento. Nessas situações, o apego emocional é visto comoexpressão de identidade, lazer ou cultura pop, e não como sinal de desequilíbrio.
Já uma mulher que expressa cuidado ou afeto por meio de um bebê reborn — especialmente se simula comportamentos maternos como ninar, vestir ou dar nome — é frequentemente infantilizada ou patologizada. Isso revela umviés de gênero estrutural, onde expressões tradicionalmente associadas ao universo feminino são deslegitimadas e vistas como fragilidade emocional.
A sociólogaEva Illouzobserva que a sociedade desvaloriza o campo afetivo ligado ao feminino, considerando-o irracional ou imaturo. O reborn, nesse cenário, se torna mais um símbolo do modo como os vínculos e os afetos das mulheres são constantemente vigiados e julgados.
Quando requer atenção clínica?
O uso de um bebê reborn não deve ser interpretado automaticamente como sintoma de patologia. No entanto, quando esse vínculo simbólico compromete significativamente as relações interpessoais ou a autonomia emocional da pessoa, a escuta clínica pode ser benéfica.
A psicoterapia não deve buscar “retirar” o objeto, mas compreender seu papel emocional, sua função simbólica e como ele se insere na narrativa da vida daquela pessoa. É através dessa escuta — respeitosa, não moralizante — que se pode promover elaboração e autonomia.br>br>O fenômeno dos bebês reborn no Brasil é multifacetado: mistura arte, afeto, cuidado, subjetividade, e também aspectos sociais como o luto e a desigualdade de gênero. Analisar esse tema com seriedade, respeito e base teórica é essencial para romper preconceitos e abrir espaço para uma escuta mais sensível das emoções humanas.
O reborn pode ser um objeto de conforto, elaboração ou apenas apreciação estética. O que não pode é ser tratado com desprezo por refletir justamente o que ainda é negado socialmente: o direito das mulheres de viverem seus afetos sem serem julgadas.
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