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Quando dizer um "não" se torna um medo: notas sobre o ser mulher

18 de dez. de 2025

Milena Schmitt Moura

Mulher
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Na clínica, é recorrente o sofrimento de mulheres que aprenderam, desde muito cedo, a sustentar o mal-estar do outro em detrimento do próprio. Ser “agradável” aparece, muitas vezes, não como escolha, mas como um modo de laço — uma estratégia psíquica de pertencimento, proteção e sobrevivência relacional.

O problema surge quando esse modo se cristaliza. Quando existir passa a significar adaptar-se, apaziguar, silenciar desejos e desconfortos para que o vínculo não se rompa. Nessa lógica, o limite deixa de ser compreendido como um gesto legítimo e passa a ser vivido como agressão.

Quando um limite é posto, o outro pode experimentá-lo como violência. Não pelo excesso do limite, mas pela ruptura de uma posição antes garantida: a de nunca ouvir um “não”.

A psicanálise nos ajuda a pensar que nem todo mal-estar é sinal de erro ou falha subjetiva. Há desconfortos que anunciam movimento, reposicionamento e reorganização psíquica. Sustentar o próprio desconforto — e também o desconforto do outro — é permitir que o conflito apareça sem imediatamente transformá-lo em culpa, submissão ou reparação excessiva.

Há algo profundamente político nesse gesto. Mulheres foram historicamente convocadas a amortecer tensões, manter a harmonia, cuidar do outro às custas de si. Dizer “não”, nesse contexto, não é apenas um ato individual — é um deslocamento simbólico.

Você não precisa agradar.
Você não precisa se apagar para que o outro permaneça confortável.

Na psicoterapia, construímos a possibilidade de existir a partir de uma posição mais ética consigo mesma: onde o limite não é vivido como ataque, mas como condição para um laço mais verdadeiro, possível e menos adoecido.

Um abraço,
Milena Schmitt Moura
CRP: 07/41927

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