Neste fim de semana, ouvi algo difícil de digerir. Em uma pousada, ao comentar que trabalhamos com Psicologia e com uma ONG voltada ao autismo, a gerente compartilhou, sem qualquer constrangimento, suas opiniões sobre pessoas com deficiência. Disse que "nem todo lugar é para elas", que "as pessoas normais não sabem lidar com autistas", e que "certas pessoas precisam saber seu lugar".

Esse tipo de discurso — travestido de opinião, espiritualidade ou experiência pessoal — revela o quanto ainda temos que caminhar como sociedade. Precisamos lembrar:qualquer lugar é lugar para qualquer pessoa, desde que seja acessível. A presença de pessoas com deficiência em espaços públicos não é um favor que alguém concede. É um direito garantido por lei — e mais do que isso, é uma questão ética, de justiça social e de humanidade.

A acessibilidade não é sobre "dar algo a mais", mas sobrediminuir barreiras que historicamente foram erguidas para excluir. O cordão de girassol, por exemplo, usado por muitas pessoas autistas ou neurodivergentes, não é um “rótulo”. É um recurso de visibilidade e acolhimento, para garantir um manejo mais respeitoso, digno e seguro em espaços públicos. Não é sobre separar, é sobre incluir com responsabilidade.

Ouvir que “a gente está colocando tudo em caixinha” só reforça o quanto o discurso da inclusão ainda incomoda quem não se dispõe a se educar. Por que será que o reconhecimento de direitos a uma parcela da população causa tanta reação? O incômodo não vem da existência do outro, mas da ameaça à ideia de privilégio como norma.

Enquanto sociedade,temos o dever de promover a inclusão— inclusive começando pela autoeducação. Isso exige escuta, humildade, e compromisso com um mundo mais plural. Que nossas falas, ações e escolhas estejam alinhadas com a construção de espaços verdadeiramente acessíveis.Todo lugar é lugar para todos. E ponto.

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Rodrigo Leite - Psicólogo - CRP 06/215645

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